_{Corrigida. Nunes nasceu em Feira de Santana (BA), e não na cidade de Aracaju (SE) como previamente publicado.}

 O clássico entre Flamengo e Atlético Mineiro, no próximo domingo, no Mineirão, é decisivo para as pretensões de ambas as equipes no Brasileirão 2009. A partida é um confronto direto por uma vaga no G4 e até na luta pelo título. Mas, há 29 anos, as duas equipes já fizeram uma final de Campeonato Brasileiro. A competição ainda era disputada no estilo mata-mata e, em 1980, o Rubro-Negro conquistou seu primeiro título nacional justamente contra os mineiros.

Como recordar é viver, às vésperas de mais um jogo importante contra o Galo, o Site Oficial do Flamengo relembra esta partida memorável e que marcou o início da década mais vitoriosa da história do futebol rubro-negro. Faltava ao Flamengo o título de Campeão Brasileiro. Em nove anos de campeonato nacional, o Flamengo sempre fizera campanhas fracas. O que fazia com que o time fosse conhecido, principalmente em São Paulo, como "um time do Maracanã". Mal sabiam eles que, em 1980, o time da Gávea estava começando sua caminhada rumo ao topo da América e do mundo.

Com a chegada de Nunes, revelado pelo Fluminense, mas formado no juvenil do Flamengo, para a vaga ocupada por Cláudio Adão, o time foi passando por cima dos seus adversários até chegar à final, em ida e volta, contra o Atlético Mineiro de Reinaldo, Toninho Cerezo e Éder. E foi o próprio Nunes um dos principais responsáveis pela primeira conquista nacional do Clube de Regatas do Flamengo. Após muita briga e muita disputa nas partidas da decisão, no confronto do Maracanã, a Nação Rubro-Negra fez a diferença, o time se doou em campo, e saiu com a taça de melhor time do Brasil; a taça de campeão brasileiro. Mas não foi fácil.

A primeira partida da decisão, no Mineirão, foi marcada pela violência. O Flamengo jogou sem Zico, contundido, e Éder fraturou a mandíbula de Rondinelli numa dividida. Rondinelli caiu desacordado, com os olhos revirados. Voltou a si, ficou de pé e, mesmo sem saber direito onde estava, disse que ia continuar no jogo (e desmaiou de novo). Foi substituído, e os companheiros passaram o resto do jogo temendo por sua vida. O Atlético venceu por 1 a 0 e jogaria pelo empate no Rio.

Na finalíssima, no Maracanã, diante de 164 mil pessoas, de nada adiantaram a violência e a catimba dos atleticanos. O Flamengo tinha de novo Zico e tinha Nunes, que começaria sua consagração como o artilheiro das grandes decisões. O primeiro tempo, duríssimo, terminou com o Flamengo vencendo por 2 a 1. No vestiário, Coutinho leu uma carta para a equipe: era de Rondinelli, escrita no hospital, com o maxilar preso por arames e parafusos. O "Deus da Raça" exigia o título: "Vamos pra cabeça, companheiros!"

Como se tivesse uma dívida para com Rondinelli, o Flamengo voltou com tudo para o segundo tempo. O mineiro Reinaldo, grande jogador e, mal podendo andar em campo com uma distensão, ainda conseguiu empatar para o Atlético. Mas Nunes, que já fizera o primeiro gol, foi lá sozinho e fez o terceiro, o do título, em lance que não sai de sua memória.

"Tenho uma lembrança muito boa desse jogo. Foi o primeiro título nacional do Flamengo, com o Maracanã lotado, não tem como não lembrar. É sempre uma honra ser lembrado por ter decidido uma partida tão importante para o Flamengo. Todo mundo me reconhece como carrasco do Atlético, porque sempre que jogava contra eles tudo dava certo", afirmou em entrevista exclusiva ao site oficial do Flamengo. 

"A história sou eu". Bem humorado, foi assim que Nunes resumiu sua história com o Atlético Mineiro. Uma de suas vítimas preferidas, mas também um dos clubes onde fez mais sucesso e tornou-se o maior artilheiro da história do Mineirão. O atacante parte da geração mais vitoriosa do Flamengo, que entre 1980 e 1983, conquistou três Campeonatos Brasileiros, a Libertadores da América e o Mundial Interclubes. Certamente, não possuía a mesma técnica e habilidade de seus companheiros, contudo, sua raça e oportunismo, também o transformaram em mais um ídolo da torcida flamenguista. Ganhou o apelido de Artilheiro das Decisões, em virtude de sua impressionante vocação de marcar gols em decisões de campeonatos. 

Nascido em Feira de Santana, na Bahia, Nunes mudou-se para o Rio de Janeiro em 1970. Naquele mesmo ano, ingressou nos juniores do Flamengo. Passou cinco anos nas categorias de base do rubro-negro, todavia, quando atingiu a maioridade, foi dispensado pelos dirigentes do clube, que não viram potencial em Nunes. Acabou rodando pelo mundo antes de retornar à Gávea em 1980 para realizar seu antigo sonho de vestir a camisa rubro-negra como profissional. 

Suas vítimas mais ilustres foram o Atlético-MG, o Liverpool e o Grêmio, que respectivamente perderam para o Flamengo o Campeonato Brasileiro de 1980, o Mundial Interclubes e o Campeonato Brasileiro de 1982, todos com gols de Nunes nas finais. Agora, o ex-jogador espera que Adriano e companhia façam jus à tradição rubro-negra de sempre vencer o Galo em jogos decisivos e consigam mais três pontos, mesmo jogando em um Mineirão lotado.

"Espero que esse próximo jogo seja tranqüilo, dentro e fora de campo, tenho certeza de que vai ser uma partida excelente e torço para que o Flamengo entre com uma grande postura, aproveita as oportunidades e não tenha medo de nenhum tipo de pressão no Mineirão. A torcida do Atlético é muito grande, é bonita, mas não pode existir isso. O Flamengo é Flamengo em qualquer lugar e tem totais condições de sair com a vitória. Sempre é preciso ter confiança e personalidade. O primeiro objetivo traçado foi chegar ao G4; chegamos. Agora é manter até a última rodada entre os quatro primeiros e, aí sim, pensar no título. Mas é possível sim", afirmou Nunes, que vê em Adriano uma boa chance de um novo artilheiro decisivo para o Flamengo.

"O Adriano é um garoto que foi criado na base do clube, acabou saindo cedo, mas voltou para dar certo, realizou seu sonho de estar de volta e agora só tem que dar continuidade no trabalho. Torço para que ele use a cabeça, tinha cabeça e use seu talento para ajudar o Flamengo. É um grande jogador, que faz a defesa tremer quando está dentro da área, como eu fazia antigamente", completou.