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Os 10 Avatares

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Por: Arthur Muhlenberg - autor convidado

Para os rubro-negros ditos normais vestir nossas cores, abarrotar arquibancadas e empurrar o time para frente e para o alto sob qualquer condição nunca foi uma opção. É da nossa natureza, tudo impresso em nosso DNA. E muito além do determinismo genético, acreditamos com fervor religioso que amar e estar sempre onde o Flamengo estiver seja a nossa missão precípua sobre a Terra. Ainda que ultimamente a terra, a água e o fogo venham castigando os rubro-negros com extrema severidade, tenha certeza que, mesmo dilacerada, a torcida do Flamengo na noite desta quinta-feira estará toda no Fla-Flu. Alguns de corpo presente, outros em espírito, todos em paixão.

O Flamengo se forjou sob alta pressão e na altíssima temperatura das suas glórias, mas foram as tragédias que deram a têmpera que nos transformou no que hoje somos. Desde o naufrágio da Pheruza, nosso primeiro barco, tentamos aprender com elas. E não temos conseguido. Gilberto Cardoso, Geraldo, Coutinho e Figueiredo continuam inexplicáveis, mas foram fazendo da nossa segunda pele uma casca cada vez mais grossa. Lamentavelmente, descobrimos na última sexta-feira que essa casca ainda não é de todo invulnerável.

Artur da Távola ensinou que ser Flamengo é ser humano e ser inteiro e forte na capacidade de querer. Mas ser Flamengo é também aprender a rimar amor e dor no mesmo verso. Como estão ensinando em seu ultimo ato os 10 Meninos do Ninho. Os 10 meninos, os 10 mártires, os agora 10 avatares entronizados no Olimpo vermelho e preto. Foi a violenta ausência desses 10 meninos que revelou a extensão de forças que muitos nem mesmo suspeitavam da existência.

A força que vem da solidariedade, da empatia, da capacidade de se colocar no lugar do outro. A força que o Flamengo vem recebendo de todas partes, de todos os seus admiradores, de todos os seus rivais. De todos aqueles que perceberam que os Meninos do Ninho não são apenas os que partiram, mas também os que permaneceram. Os Meninos do Ninho somos todos nós, todos os meninos, todas as meninas. A cultura zulu tem uma palavra que explica a origem dessa força: Ubuntu – que significa eu sou porque nós somos. O Flamengo hoje é Ubuntu dos pés à cabeça.

A solidariedade não se agradece, a solidariedade se comemora. É com esse espírito que lotaremos o Maracanã nesta noite. Para honrar nossos mortos e cantar bem alto o nome  dos nossos heróis. De todos eles, como o segurança Benedito Ferreira e nossas heroínas Daniele da Silva, dos Serviços Gerais e Maria Cícera de Barros, da Lavanderia. Todos gigantes, todos heróis. O Flamengo é fera ferida, mas vamos comemorar a vida, celebrar a solidariedade, viver o futebol. E encarar o Fluminense.

Enfrentar o Fluminense por mim, por você e pelo vizinho, por todas as gentes da Nação. E pelos Meninos do Ninho. Que já não são nem gente, são anjos.

Dedicado a Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías.