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Me leva nesse mar de amor

Uma crônica sobre a paixão rubro-negra

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Meu pai faz aniversário no mesmo dia do Flamengo. 15 de novembro. Então, como rubro-negra desde pequena, sempre foi uma data de muita comemoração, mas difícil por precisar dividir as atenções entre ele e meu clube do coração. “Pai, vou no seu aniversário, mas se tiver jogo já sabe.”

Não sei quantos anos eu tinha, mas houve um certo aniversário que meu pai resolveu levar a família para um parque de diversões. Eu e minha irmã éramos pequenas, então parecia bem divertido. Mas ele caiu no erro de, ao ouvir a solicitação das filhas por um banheiro no meio do caminho, parar na sede da Gávea. Resultado: achamos que o parque era lá e não saímos pelo resto do dia. A sorte é que ele também tem coração vermelho e preto, pois imagina o transtorno para explicar que não era.

É difícil pensar algum momento que a palavra família não tenha ligação direta ao Flamengo. Todos os grandes momentos da minha vida tiveram um pouco do time, sejam eles bons ou ruins. Foi por causa deste clube que vivi os melhores dias e conheci as melhores pessoas da minha vida. Também foi nele que me apoiei nos momentos mais difíceis. É possível dizer que, mesmo de forma silenciosa, o Clube de Regatas do Flamengo foi tudo que precisei quando precisei.

Hoje tenho a sorte por trabalhar no lugar que sempre recorri como refúgio. E não tem um dia que eu não pense na sorte de poder respirar isso todos os dias. Como citei acima, é impressionante como o Flamengo está sempre presente.

Em 2016, perdi minha avó, a grande influência nesse amor todo. Por coincidência, ela se foi exatamente quando o Rubro-Negro fechou o placar de 5 a 0 contra a Portuguesa no Campeonato Carioca. Ironia do destino ou não, exatamente um ano depois eu comecei a trabalhar no clube. Um ano depois, quando completavam dois anos sem ela, eu estava em Volta Redonda, palco daquela goleada, vendo uma vitória em um clássico importante. Nossa última conversa, que lembro todos os dias, também foi sobre uma partida dessas. Sempre conectada ao grande amor da vida dela de alguma forma. Um paradoxo intenso que mostra o turbilhão de sentimentos que é torcer para essa equipe.

Uma vez me falaram que se o Flamengo chamasse às 5h da manhã ou às 22h, eu responderia com a mesma felicidade. Parando para pensar, é verdade. São quase vinte quatro horas por dia vivendo isso, mas sei que, se o dia tivesse mais uma, dez ou cinquenta horas, elas seriam igualmente dedicadas — por livre e espontânea vontade. É engraçado o que esse clube faz com a gente. Quando o Flamengo chama, é difícil dizer não.

Neste dia 15 de novembro, mais um que tenho o prazer de compartilhar, eu prefiro agradecer. Agradeço pelos momentos que vivi com a minha mãe, pois foi o Flamengo que nos fez melhores amigas de vida e de arquibancada. Além de ser o ponto de partida para cada união familiar. Agradecer pelos amigos que entraram na minha por esse sentimento. Pelos momentos intensos que vivi em cada arquibancada de cada esporte que já tive o prazer de estar. Por tornar aqueles 90 minutos tão significativos por tantos motivos. Agradeço por ser o motivo de tanta loucura nesses anos, de tanta paixão, de tanto tudo.

E como as marés dependem da lua, essa magia depende de nós, torcedores. Depende da Nação, de algo que transcende os limites da razão. Flamengo, “me leva nesse mar de amor”. Obrigada por me proporcionar tudo isso. Feliz 123 anos.