Dirigente prevê momento de mudança no Futebol Brasileiro
Por Arquivo Flamengo - emLondres, maio de 2007
O futebol brasileiro está vivendo um momento raro de mudança em seu processo de desenvolvimento comercial, graças à criação de um ambiente de genuína competição pelos direitos de TV, pela primeira vez, nas palavras de um dirigente de clube local.
Em uma entrevista exclusiva ao Sportcal, Ricardo Hinrichsen, Vice-Presidente de Marketing do Flamengo, disse: “Se nós tivermos condições de nos aproveitar da situação, há oportunidade para atingirmos um outro nível”.
A TV Globo, detentora dos direitos do Campeonato Brasileiro, está sendo desafiada pela TV Record, que alega ter oferecido cerca de R$ 500 milhões por ano pelos direitos, contra R$ 300 milhões que a Globo paga por ano, em contrato que se encerra neste ano.
O Flamengo, clube com a maior base de torcedores do país, está considerando se associar ao Corinthians para negociar separadamente os direitos, a não ser que os demais clubes concordem com uma fórmula de rateio que reflita o maior poder de atração de audiência que os 2 clubes possuem, segundo ele. "Caso negociemos em conjunto, será muito difícil para qualquer emissora de TV assinar um acordo sem os 2 clubes”.
Atualmente as receitas são distribuídas em 3 categorias de clubes, sendo que Flamengo e Corinthians acabam recebendo a mesma quantia que clubes como Vasco, São Paulo e Palmeiras. O Flamengo acredita que essa fórmula dever ser revista, já que agrupa os clubes, donos de 35 milhões - Flamengo e 25 milhões de torcedores - Corinthians, com outros na faixa de 5 a 10 milhões.
Um estudo recente encomendado pelos clubes para se usar uma nova metodologia de rateio acabou sendo descartado, por falta de um acordo entre os mesmos. Os clubes devem se reunir em breve para traçar uma estratégia de negociação e Ricardo já avisa que foi decidido que se o clube precisar ficar sozinho – junto com Corinthians, isso será feito.
Outros fatores que contribuem para esse momento positivo são: a aprovação da Timemania e a expectativa de sediarmos a Copa de 2014. A maioria dos clubes está bem endividada, inclusive o Flamengo, que prevê usar as receitas da loteria para amortizar dívidas pelos próximos 10 anos. Apesar disso, a promessa de pagamento das dívidas melhora a situação do clube, que passa a se habilitar a receber as cotas de patrocínio da Petrobras, o que não acontece atualmente por conta da situação fiscal do clube.
Sabendo que a base de torcedores representa um mercado potencial atrativo, Hinrichsen planeja buscar categorias menores de patrocínio, mesmo que apenas metade dos torcedores possa ser considerada como “consumidores potenciais”.
O clube planeja construir uma nova arena para 30 mil pessoas em sua sede, o que representa um novo filão de comercialização ainda pouco explorado por aqui, tais como hospitalidade e espaços corporativos, por exemplo.
Entretanto, essa novidade traz bastante controvérsia e tem um fator político importante, já que se trata de um modelo em que o preço mais alto impedirá que muitos torcedores acompanhem os jogos ao vivo. Segundo ele, a tendência para a Copa de 2014 é que haja um espaço mais “democrático” nos estádios, mas que a maior parte dos assentos seja usada para trazer maiores receitas.
O clube está conversando ainda com os especialistas em vendas de naming rigths, a empresa americana Bonham Group, para trazer novos patrocinadores para a arena. Outro negociação envolve a Warner Brothers, interessada em desenvolver um programa de licenciamento da marca do clube, como foi feito recentemente com o São Paulo.
Outras iniciativas incluem o novo site e um programa de relacionamento com o torcedor, que permitirá que o clube conheça os hábitos de consumo de seus torcedores, por exemplo. Segundo Ricardo, “com isso em mãos posso fechar melhores acordos de patrocínio e licenciamento, já que hoje se trata de um tiro no escuro”.
Muitas dessas iniciativas, comuns nos clubes da Europa, são novas no Brasil. Mesmo o Flamengo, maior clube do país, só conta com seu próprio departamento de marketing há 2 anos.