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#M3NGO: De Arrascaeta, o uruguaio mais carioca do Brasil é bicampeão da América com o Manto

Exibindo seu futebol encantador, como de costume, meia chega à segunda conquista da Libertadores pelo time da Gávea

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Foi por volta de 1850 que os irmãos Richard e Karl Wendelstandt deixaram a Alemanha e foram para o Uruguai sonhando com uma vida melhor. Compraram fazendas na região fronteiriça entre os atuais departamentos de Paysandu e Soriano e lá começaram, junto com outras famílias alemãs, a formar a colônia de Nueva Melhem.


A família Wendelstandt acreditou na ambição dos dois irmãos e, com o investimento na região, a comunidade prosperou e se desenvolveu, sendo denominada Pueblo Nueva Berlín, em 1875, e promovida a Villa Nueva Berlín, quase um século depois, em 1974. A cidadezinha com pouco mais de 2 mil habitantes viu nascer, no primeiro dia do mês de junho de 1994, seu cidadão mais famoso. Alfredo de Arrascaeta era jóquei e convenceu Victoria, sua esposa, a homenagear seu cavalo invencível ao batizar o filho. Assim, Giorgian Daniel de Arrascaeta Benedetti nasceu com a vitória em sua origem e seu destino.


O acidente do pai Alfredo afastou o pequeno Giorgian da carreira de jóquei, numa linhagem natural também ao tio e a um primo. O amor pelos cavalos está no seu DNA, mas sua própria corrida é dentro das quatro linhas, desde os quatro anos de idade. Defendendo as cores do Pescadores Unidos de Nueva Berlín, despertou a atenção dos mais velhos com seu espírito de luta e capacidade de improviso sem perder a lealdade. 


Desde muito novo, mostrava que tinha um futebol diferente. O prêmio de 5 pesos uruguaios por gol marcado foi um incentivo dado pelo pai que durou pouco tempo. Ficou difícil honrar o compromisso com a quantidade de triunfos. Em uma temporada, Giorgian marcou 49 gols e obrigou seu pai a pensar em uma outra forma de apoio. Seu talento o levou para o Club Anglo em 2007. Mantendo as boas atuações, e após algumas convocações para a seleção de Rio Negro, fechou, em 2009, com o Defensor Sporting. Lá, levantou sua primeira grande taça, do torneio clausura de 2013, e fez parte da melhor campanha da história do time na Libertadores, chegando às semifinais da competição em 2014. 




Com 21 anos, jogar no Brasil foi uma escolha corajosa em meio a várias propostas em outros continentes. No Cruzeiro, fez parte de um time que conquistou dois títulos seguidos da Copa do Brasil (2017 e 2018) e um Campeonato Mineiro (2018). 


A chegada ao Flamengo, em 2019, com 25 anos e tendo vestido a camisa 10 da seleção uruguaia na Copa do Mundo de 2018, foi carregada de expectativa. Junto a Gabriel Barbosa e Bruno Henrique, também recém-contratados, formaram com Everton Ribeiro um ataque histórico, responsável pela conquista do Campeonato Carioca e pelo título com recordes de vitórias, pontos e gols marcados no atual formato do Campeonato Brasileiro. 


Foi alvo de críticos, um fazendo pouco caso de seu futebol, outro garantindo que sua timidez seria uma barreira intransponível para chegar ao sucesso no clube de Maior Torcida do Mundo. Mas, aos poucos, o Rio de Janeiro foi se transformando em seu lar e Giorgian se tornou Arraxca, assim mesmo, com o xis característico do sotaque: o uruguaio mais carioca da história do país. 




Além da habilidade com a bola nos pés, o seu espírito de luta indestrutível trouxe a vitória para o Mengão em diversas ocasiões. Acreditar sempre foi o combustível para gols, como o de cabeça, aos 48 do segundo tempo, contra o Vasco, pela Taça Rio de 2019, ou na inesquecível bicicleta, contra o Ceará, aos 51 do segundo tempo, no Brasileirão do mesmo ano e na assistência para Gabigol empatar a decisão da Libertadores, em Lima, aos 43 minutos da etapa complementar.


Três anos e dez títulos depois, Arrascaeta é cada vez mais amado pela Nação e cada vez menos gringo. Assim como Valido, Doval, Mancuso e Petkovic, o camisa 14 já figura entre os imortais da bola naturalizados brasileiros pela torcida. Não são poucos os rivais que admitem acompanhar os jogos do Flamengo por reconhecerem a beleza do futebol do nosso meia, já que não é o mais alto, mas ganha as divididas de cabeça, não é o mais rápido, mas coleciona defensores deixados para trás e não é o mais forte, mas só perde as disputas de bola quando sofre falta.


Mesmo após as conquistas do Campeonato Carioca, do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores em 2019, do Campeonato Brasileiro, da Recopa Sul-americana e da Supercopa do Brasil em 2020, do Campeonato Carioca e da Supercopa do Brasil em 2021 e da recente conquista da Copa do Brasil em 2022, a Nação tem total consciência que nada disso basta. Um jogador como Arrascaeta, que nunca foi expulso, nunca forçou cartão amarelo, nem se escondeu de jogos difíceis, conquistou, neste sábado (29), sua segunda CONMEBOL Libertadores com o Manto.


Que sua vontade de vencer, emanação da camisa 10 de Juan Schiaffino, Pedro Rocha, Ildo Maneiro, Enzo Francescoli, Rúben Paz, Fabián O’Neil e Diego Forlán, continue guiando seu caminho, traçado com muita luta e recheada de glórias.