A caminho dos Estados Unidos, Ju Lopes se despede do Flamengo com carta emocionante
Volante/meia revelada na Gávea vai para o futebol universitário e abre o coração para o clube que torce desde a infância
Por Comunicação Flamengo - emAprovada na peneira do primeiro time de base da história do Flamengo em 2019, a volante/meia Ju Lopes está de saída rumo aos Estados Unidos. A atleta vai estudar e jogar na Lee University, atual vice-campeã nacional da NCAA D2, localizada no Tennesse. Ela se despediu oficialmente na manhã desta sexta-feira (29), recebeu um Manto Sagrado personalizado e ganhou muito carinho das companheiras e de toda comissão técnica. Autora de dois gols na decisão da Taça Unifoot Diamante Pró (título conquistado em junho), Ju escreveu uma carta em que expressa toda sua gratidão pelo clube.
Ao Flamengo, com muito amor e carinho
Parece que foi ontem que, mesmo indo até o Ninho do Urubu assinar meu primeiro contrato de formação, eu não acreditava que tinha sido uma das escolhidas para formar o primeiro time de base do Flamengo. Na verdade, até hoje não caiu a ficha. É muito difícil acreditar que consegui realizar esse sonho. Porém, mais difícil mesmo, é dimensionar nossa própria grandeza, pois desde o momento que vestimos o Manto, entendemos que precisamos ser tão gigantes quanto o próprio clube.
Tenho certeza que, além de ter realizado um sonho, eu entreguei tudo que podia enquanto vestia essa camisa. Para mim, o mais incrível ainda foi ter tido a oportunidade de viver e escrever um pedaço dessa história que só está começando. Pude vivenciar na pele a revolução que está ocorrendo no clube, as proporções que estão sendo alçadas e que estão levando o clube para um domínio nacional.
Costumo brincar que eu cheguei no Flamengo quando “tudo era mato”, uma vez que o projeto ainda estava se iniciando. Lembro de sair correndo do colégio e almoçar correndo para ir treinar no sol de 40 graus do Rio de Janeiro na parte da tarde. É muito engraçado ver o quanto tudo isso mudou e é gratificante ver o quanto a modalidade evoluiu. Hoje treinamos em um horário melhor, com alimentação pré e pós treino, sem contar com suplementos. Vi de perto a melhora da infraestrutura em todos os setores. O Flamengo nos deu importância e nos incentivou.
Viver cada momento dessa evolução é um privilégio enorme, principalmente, por saber que os resultados dentro de campo foram fundamentais. Foi graças ao nosso suor, ao nosso sacrifício individual diário que ninguém vê, que tudo evoluiu. E eu fico extremamente feliz em ter contribuído para o desenvolvimento da modalidade no clube.
Nunca vou esquecer da energia que senti toda vez que vesti o Manto, da pele arrepiando quando estávamos no vestiário cantando o grito de guerra, de ganhar cada dividida em campo, de fazer um gol, bater no peito e gritar "isso aqui é Flamengo!", de todas as vitórias, jogos, campeonatos, resenhas, risadas... Nunca vou esquecer de nada!
Óbvio que a vida de um atleta está longe de se resumir apenas em momentos bons, existem aqueles momentos pouco vistos e lembrados, mas só quem é atleta sabe a sensação de treinar mal, de perder um jogo, de se lesionar… Entretanto, todos esses momentos só me fortaleceram e me deram mais vontade de melhorar e me preparar para quando surgisse a oportunidade. Posso dizer que sonhei, treinei e realizei. E no final, não lembro desses momentos como ruins, mas sim, como momentos que me fizeram crescer.
No final de 2021, acabei me lesionando e ficando fora por quase cinco meses. Perdi o Campeonato Carioca da temporada que eu queria tanto jogar. Em março de 2022, voltei a treinar com o grupo e confesso que foi um retorno bem complicado, pois como havia sido minha primeira lesão, foi difícil de me adaptar.
Voltei aos poucos, me adaptei novamente ao físico das meninas, ao tático do novo treinador e tudo estava caminhando. Porém, havia uma parte faltando. Pelo que havia ocorrido e o que eu tinha perdido, meu mental estava muito abalado, minha confiança estava baixa. E isso demorou a voltar ao normal. Mesmo com tudo parecendo estar um caos, minha vontade de voltar a vestir a camisa do Flamengo e disputar um jogo era maior que tudo. Voltar a sentir a sensação da pele arrepiar ao pisar em campo, de sentir o peso do Manto no corpo, da adrenalina, do sangue quente e suor era o que me mantinha focada em treinar para que, quando tivesse uma chance, eu pudesse aproveitá-la.
E ela apareceu.
26 de junho de 2022, Final da Taça Unifoot Diamante Pró
Estádio da Gávea
Por conta dos meses sem jogar, pandemia e outros fatores, eu não jogava na Gávea desde 2019, em um amistoso realizado com a equipe que ainda era Sub-18. A atmosfera da final estava eletrizante. O jogo estava sendo transmitido pela FlaTV, haviam torcedores convidados no local, minha família e amigos também estavam presentes. Mas eu só pensava em uma coisa: conquistar o primeiro título da base feminina. Mesmo com um misto de sentimentos dentro do peito, da realização de sonhos como jogar uma final pelo Flamengo, jogar na sede do clube e, dentre tanta outras coisas vividas naquele momento, minha concentração estava num nível tão extremo que eu mesma me surpreendi e só no apito final pude perceber o quanto eu tinha amadurecido em tão pouco tempo. Tive a oportunidade de ser titular e de marcar dois dos cinco gols do time no confronto. Tenho certeza que foi uma coroação de todo o meu trabalho, mas mais ainda de todo o trabalho da equipe. Pois mesmo existindo lutas individuais, não podemos esquecer que o futebol é um esporte coletivo! Primeiro título da base feminina do clube. Tá na história. Eu escrevi meu nome lá. Nós escrevemos nossos nomes lá.
Eu tenho muito orgulho da história que eu escrevi no Flamengo. Tenho muito orgulho de ter feito parte dela. E me orgulho ainda mais por ter visto o futebol feminino se valorizar e crescer no clube que eu tanto amo e admiro. A Juliana de 2019 nunca iria imaginar o quanto ela seria feliz, resiliente e realizada... E o quanto ela cresceria nesse tempo. Ela só achou que ia demorar pra acabar.
Obrigada a todos que fizeram parte dessa minha trajetória, seja atleta, comissão, funcionário ou torcedor. Pode ter certeza que nossos momentos foram memoráveis e levarei comigo para sempre!
Realizei meu sonho e fui muito feliz!
Foi um privilégio participar desde os primeiros treinos, primeiros campeonatos, até o primeiro título da base!
No meu sangue corre rubro-negro...
Que não seja um adeus, e sim, um até logo!
Ju Lopes #8