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Viagem no tempo

Texto de Eduardo LacombeJornal dos Sports

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A proximidade com o dia 15, quando eu e mais 39.999.999 rubro-negros comemoramos os 113 anos de fundação do Clube de Regatas do Flamengo, leva-me a fazer uma viagem no tempo. E fico aqui, neste meu humilde espaço, tentando imaginar o que seria o Rio de Janeiro, mais precisamente a Praia do Flamengo, naquele fim de século XIX. Seria uma vida melhor, mais confortável que a que levamos hoje, nestes tempos pós-Bush (já me permito considerar que aqueles negros tempos já são passados)? Não tínhamos as comunicações que temos hoje, a medicina ainda engatinhava (a penicilina, por exemplo, só surgiu após a II?Guerra Mundial), os direitos humanos, acho, ainda não eram formulados e a sociedade era um machismo só.\ É neste Rio de Janeiro que um grupo de rapazes resolveu fundar o Grupo de Regatas do Flamengo. A terminologia era, em si, um protesto contra o uso indiscriminado do inglês, imaginem só! Como club é palavra inglesa (hoje aportuguesada, como clube), foi usado o termo português. Mas acabou mudando, mais tarde, para clube, na forma atual, para poder filiar-se às federações e, assim, ser uma entidade desportiva (argh!).\ Mas se lutava contra as expressões estrangeiras, os fundadores do Flamengo começavam radicalizando. E o reflexo deste comportamento foi sentido em 1911, quando Alberto (creio ser este o nome dele) Borgeth quis criar o Departamento de Esportes Terrestres no clube, e teve sua proposta rechaçada quase que por unanimidade. O argumento? Simples: “Futebol é coisa de viado. Esse negócio de ficar bailando na frente do adversário, gingando pra lá, gingando pra cá... Não!?Não é negócio de homem”.\ Superados os preconceitos e as dificuldades naturais de um clube pobre, chegamos muito longe. Só lamento que os estatutos nos obriguem a comemorar a fundação em pleno feriado nacional. Assim, ficamos com a nossa data ofuscada pelo golpe liderado pelo Marechal Deodoro. Caso fosse mantida a data original, o dia 17 (a obrigatoriedade de festejar a fundação no dia 15 é estatutária e consta da ata de fundação) seria o grande feriado.\ Seria o dia em que nasceu o Clube Mais Querido do Brasil, que arrasta multidões onde quer que apareça, que leva ao delírio a massa, que transforma tragédias em comédias e que nos faz, a cada dia, acreditar que somos regidos pelo imponderável\