Trinta e oito rodadas ao lado do Mengão
Quatro amigos assistiram de perto aos 37 jogos da equipe no Campeonato Brasileiro. E já garantiram os ingressos para o jogo de domingo contra o Grêmio
Por Da equipe do site oficial do Flamengo - em
Eles levaram ao pé da letra a canção "Onde Estiver Estarei". Com muito orgulho, quatro amigos foram a todos os jogos do Flamengo no Campeonato Brasileiro. Foram muitos quilômetros de estrada e milhas de viagem, momentos sofridos e outros tantos de alegria. E a cereja do bolo, esperam todos, há de ser saboreada neste domingo, quando o Flamengo enfrenta o Grêmio, na última rodada, em jogo que pode valer a conquista do hexacampeonato.
Tudo começou com Júlio Veloso, morador de Duque de Caxias. Em um jogo do campeonato estadual, numa quarta-feira, em Volta Redonda, o funcionário público do Banco do Brasil disse aos demais: "Saiu a tabela do Brasileirão. Acho que vou a todos os jogos".
Veloso, dizem os amigos, disse isso sem grande alarde. "Parecia estar dizendo que logo após o jogo ia comer um sanduíche ou coisa assim", comenta o gerente financeiro Mercio Querido Figueiredo, que é chamado pelos amigos de Sorin, em função da relativa semelhança dos seus cabelos com os do ex-jogador da Seleção Argentina.
E assim começou a saga. Ao lado do engenheiro José Paulo de Assis, do Méier, e do taxista Ricardo Fernandes, do bairro da Tijuca, eles correram o Brasil para ver o Mengão. "Foi tudo por conta própria, sem ajuda de ninguém e nem com torcida organizada, tudo organizado por nós mesmos", diz José Paulo de Assis, que conheceu os amigos nas arquibancadas de outros estádios e nos encontros casuais durante as viagens. Em mais de 30 jogos, o grupo teve a companhia de Marcos Felippe, de apenas 13 anos, o "Sorinzinho", que assim como o pai mora em São Gonçalo.
De início, alguns pensavam em deixar de ir a alguns dos jogos, principalmente em lugares mais distantes, para onde a passagem aérea é mais cara. Ao pesquisar preços nos sites das companhias aéreas, a motivação crescia. "Íamos simplesmente comprando as passagens e passando a informação para o grupo", explica Mercio Querido. "Um dia para o outro: ‘Pra Bahia tá baratão, menos de 100 pratas!’. E o outro: ‘Caramba! Só 89 para Curitiba! Tá dado!’", relata.
Para ele, o segredo financeiro está no planejamento, que permite comprar passagens com grande antecedência. "O campeonato começa em maio. Logo após o carnaval as pesquisas e compras na Internet já estão a pleno vapor. Não nos preocupamos com São Paulo ou Minas. Dá pra ir de ônibus ou van fácil. Os preços são incríveis quando se compra em março passagens para jogos que só serão realizados muitos meses depois", ensina Mercio, que eventualmente colabora com informações para o programa oficial do Flamengo de apoio ao torcedor, o Gease-Fla (Grupo Especial Alegria e Segurança nos Estádios).
Outra vantagem é o acúmulo de milhas. "Recebemos um up grade de categoria de cliente smiles em poucos meses. Mais facilidades para o brasileirão 2010. Ou alguém acha que a gente pretende parar por aqui?", completa.
Uma das piadas internas do quarteto é ver o algarismo seis, de hexa, em tudo. Nos voos, no número de letras de uma palavra, assim como faz Zagallo. "Em Campinas foi muito boa a conjunção de fatores, vibrar com os gols do Flamengo e com a notícia dos gols do Goiás sobre o São Paulo. Nossa maior alegria, sem dúvida, será cruzar a roleta do estádio no dia 6 de dezembro no jogo contra o Grêmio, será como a linha de chegada de uma longa maratona", diz Mercio Querido.
Veja aqui um resumo do relato que o torcedor concedeu ao site oficial do Flamengo.
Fidelidade máxima - De acordo com Mercio Querido, eles jamais pensaram em desistir dessa loucura. Nem mesmo depois de derrotas incômodas como as observadas para o Sport (4 a 2, de virada) ou Coritiba (5 a 0). "Nada nos irrita mais que isso. Nada. Torcedores que condicionam sua ida ao estádio de acordo com o desempenho do time deveriam ganhar uma televisão de 100 polegadas e uma assinatura vitalícia do pay-per-view", provoca.
"Nós estávamos no jogo contra o Sport, uma semana depois lá íamos nós em paz com nossa consciência e nossos princípios para o Paraná. Se as goleadas se multiplicassem nas rodadas seguintes, nada mudaria nossa rota, podem ter certeza", reforça o gerente financeiro.
Ingressos – Para Mercio Querido, o grande problema é conseguir ingressos. "A luta pelos ingressos é uma maldição na nossa vida. Nossa rede de contatos é extensa. Temos as embaixadas da nação espalhadas pelo Brasil. Temos amigos que vamos fazendo ao longo da jornada. Temos paciência", comenta.
Trabalho – A solução da maioria dos quatro amigos é esforçar-se mais durante a semana, em seus respectivos empregos, para aumentar o crédito e a compreensão dos patrões. De todos os integrantes do quarteto, o que tem mais vantagem é o Ricardo Fernandes, o taxista, que faz seu horário. "É fato banal para todos nós, principalmente em jogos de quarta ou quinta, passar a madrugada dormindo no chão do aeroporto e sair do avião no Galeão, direto para os seus respectivos empregos no dia seguinte".
Perigo – Ao longo dessa jornada, o maior perrengue que eles passaram foi em outubro, quando o Flamengo visitou o Palmeiras no Palestra Itália. Ao contrário de outras vezes, eles viajaram de van, num grupo maior, com 14 pessoas. "Já fui inúmeras vezes ao Palestra Itália para saber que lá não é exatamente o lugar mais pacífico do mundo. Quando chegamos a São Paulo, a maioria botou uma blusa verde qualquer para se ‘camuflar’. Sempre fiz isso. Não dessa vez. Uma coisa é você chegar a pé e sozinho. Outra, completamente diferente, são 14 pessoas de verde, sem nenhum desses verdes ser a blusa do Palmeiras", pondera Mercio Querido.
Em duas vans idênticas, ambas com placas do Rio, presas no congestionamento após o jogo, os cariocas atraíram olhares pouco amistosos depois da derrota dos donos da casa em um jogo memorável de Petkovic. "Tenho uma crença que só não atacaram os veículos porque, com o vidro revestido, não sabiam exatamente que tipo de gente poderia sair lá de dentro. Uma coisa é certa. Bastaria algum vândalo mais afoito dar um solavanco mais forte nos veículos para desencadear o que poderia virar uma tragédia. Naquele dia decidi. De van nunca mais", promete Mercio Querido.
Parentes – As críticas dos familiares e amigos são constantes, diz Mercio Querido. O antídoto, segundo ele, é não fazer concessões. "Quando elas percebem isso, simplesmente param de perturbar. Enterro da Sogra. Casamento da Prima. Chá de Bebê da Irmã. Cirurgia do Cunhado. Batizado do Filho. Enfim, se você abre mão para alguém, os outros se sentem no direito de participar das exceções também", justifica.
Alegria - Uma das grandes alegrias do grupo foi presenciar uma vitória histórica do Flamengo na Vila Belmiro, quebrando um longo tabu. "Tenho quase 40 anos. Cresci com uma certeza: na Vila Belmiro não dá para ganhar. Esse ano o mundo provou o contrário. Foi um êxtase total. Dez minutos após o gol da vitória todos comemoravam como se a bola tivesse acabado de cruzar a linha. Foi tudo maravilhoso. De virada. O Andrade de técnico. No ano em que o quarteto fantástico se formou. Só estando lá para saber", comenta Mercio Querido.
Tudo começou com Júlio Veloso, morador de Duque de Caxias. Em um jogo do campeonato estadual, numa quarta-feira, em Volta Redonda, o funcionário público do Banco do Brasil disse aos demais: "Saiu a tabela do Brasileirão. Acho que vou a todos os jogos".
Veloso, dizem os amigos, disse isso sem grande alarde. "Parecia estar dizendo que logo após o jogo ia comer um sanduíche ou coisa assim", comenta o gerente financeiro Mercio Querido Figueiredo, que é chamado pelos amigos de Sorin, em função da relativa semelhança dos seus cabelos com os do ex-jogador da Seleção Argentina.
E assim começou a saga. Ao lado do engenheiro José Paulo de Assis, do Méier, e do taxista Ricardo Fernandes, do bairro da Tijuca, eles correram o Brasil para ver o Mengão. "Foi tudo por conta própria, sem ajuda de ninguém e nem com torcida organizada, tudo organizado por nós mesmos", diz José Paulo de Assis, que conheceu os amigos nas arquibancadas de outros estádios e nos encontros casuais durante as viagens. Em mais de 30 jogos, o grupo teve a companhia de Marcos Felippe, de apenas 13 anos, o "Sorinzinho", que assim como o pai mora em São Gonçalo.
De início, alguns pensavam em deixar de ir a alguns dos jogos, principalmente em lugares mais distantes, para onde a passagem aérea é mais cara. Ao pesquisar preços nos sites das companhias aéreas, a motivação crescia. "Íamos simplesmente comprando as passagens e passando a informação para o grupo", explica Mercio Querido. "Um dia para o outro: ‘Pra Bahia tá baratão, menos de 100 pratas!’. E o outro: ‘Caramba! Só 89 para Curitiba! Tá dado!’", relata.
Para ele, o segredo financeiro está no planejamento, que permite comprar passagens com grande antecedência. "O campeonato começa em maio. Logo após o carnaval as pesquisas e compras na Internet já estão a pleno vapor. Não nos preocupamos com São Paulo ou Minas. Dá pra ir de ônibus ou van fácil. Os preços são incríveis quando se compra em março passagens para jogos que só serão realizados muitos meses depois", ensina Mercio, que eventualmente colabora com informações para o programa oficial do Flamengo de apoio ao torcedor, o Gease-Fla (Grupo Especial Alegria e Segurança nos Estádios).
Outra vantagem é o acúmulo de milhas. "Recebemos um up grade de categoria de cliente smiles em poucos meses. Mais facilidades para o brasileirão 2010. Ou alguém acha que a gente pretende parar por aqui?", completa.
Uma das piadas internas do quarteto é ver o algarismo seis, de hexa, em tudo. Nos voos, no número de letras de uma palavra, assim como faz Zagallo. "Em Campinas foi muito boa a conjunção de fatores, vibrar com os gols do Flamengo e com a notícia dos gols do Goiás sobre o São Paulo. Nossa maior alegria, sem dúvida, será cruzar a roleta do estádio no dia 6 de dezembro no jogo contra o Grêmio, será como a linha de chegada de uma longa maratona", diz Mercio Querido.
Veja aqui um resumo do relato que o torcedor concedeu ao site oficial do Flamengo.
Fidelidade máxima - De acordo com Mercio Querido, eles jamais pensaram em desistir dessa loucura. Nem mesmo depois de derrotas incômodas como as observadas para o Sport (4 a 2, de virada) ou Coritiba (5 a 0). "Nada nos irrita mais que isso. Nada. Torcedores que condicionam sua ida ao estádio de acordo com o desempenho do time deveriam ganhar uma televisão de 100 polegadas e uma assinatura vitalícia do pay-per-view", provoca.
"Nós estávamos no jogo contra o Sport, uma semana depois lá íamos nós em paz com nossa consciência e nossos princípios para o Paraná. Se as goleadas se multiplicassem nas rodadas seguintes, nada mudaria nossa rota, podem ter certeza", reforça o gerente financeiro.
Ingressos – Para Mercio Querido, o grande problema é conseguir ingressos. "A luta pelos ingressos é uma maldição na nossa vida. Nossa rede de contatos é extensa. Temos as embaixadas da nação espalhadas pelo Brasil. Temos amigos que vamos fazendo ao longo da jornada. Temos paciência", comenta.
Trabalho – A solução da maioria dos quatro amigos é esforçar-se mais durante a semana, em seus respectivos empregos, para aumentar o crédito e a compreensão dos patrões. De todos os integrantes do quarteto, o que tem mais vantagem é o Ricardo Fernandes, o taxista, que faz seu horário. "É fato banal para todos nós, principalmente em jogos de quarta ou quinta, passar a madrugada dormindo no chão do aeroporto e sair do avião no Galeão, direto para os seus respectivos empregos no dia seguinte".
Perigo – Ao longo dessa jornada, o maior perrengue que eles passaram foi em outubro, quando o Flamengo visitou o Palmeiras no Palestra Itália. Ao contrário de outras vezes, eles viajaram de van, num grupo maior, com 14 pessoas. "Já fui inúmeras vezes ao Palestra Itália para saber que lá não é exatamente o lugar mais pacífico do mundo. Quando chegamos a São Paulo, a maioria botou uma blusa verde qualquer para se ‘camuflar’. Sempre fiz isso. Não dessa vez. Uma coisa é você chegar a pé e sozinho. Outra, completamente diferente, são 14 pessoas de verde, sem nenhum desses verdes ser a blusa do Palmeiras", pondera Mercio Querido.
Em duas vans idênticas, ambas com placas do Rio, presas no congestionamento após o jogo, os cariocas atraíram olhares pouco amistosos depois da derrota dos donos da casa em um jogo memorável de Petkovic. "Tenho uma crença que só não atacaram os veículos porque, com o vidro revestido, não sabiam exatamente que tipo de gente poderia sair lá de dentro. Uma coisa é certa. Bastaria algum vândalo mais afoito dar um solavanco mais forte nos veículos para desencadear o que poderia virar uma tragédia. Naquele dia decidi. De van nunca mais", promete Mercio Querido.
Parentes – As críticas dos familiares e amigos são constantes, diz Mercio Querido. O antídoto, segundo ele, é não fazer concessões. "Quando elas percebem isso, simplesmente param de perturbar. Enterro da Sogra. Casamento da Prima. Chá de Bebê da Irmã. Cirurgia do Cunhado. Batizado do Filho. Enfim, se você abre mão para alguém, os outros se sentem no direito de participar das exceções também", justifica.
Alegria - Uma das grandes alegrias do grupo foi presenciar uma vitória histórica do Flamengo na Vila Belmiro, quebrando um longo tabu. "Tenho quase 40 anos. Cresci com uma certeza: na Vila Belmiro não dá para ganhar. Esse ano o mundo provou o contrário. Foi um êxtase total. Dez minutos após o gol da vitória todos comemoravam como se a bola tivesse acabado de cruzar a linha. Foi tudo maravilhoso. De virada. O Andrade de técnico. No ano em que o quarteto fantástico se formou. Só estando lá para saber", comenta Mercio Querido.