Técnico do Fluminense defende a profissionalização total do futebol como a solução para clubes quase falidos
"Pensava que iríamos falar de futebol". Carlos Alberto Parreira, técnico do Fluminense, não perde o fôlego que acumulou em mais de 40 anos de carreira quando é pressionado a responder perguntas que o fazem respirar fundo. Independente, como ele se considera, o treinador foi sincero ao revelar seu ponto de vista sobre assuntos polêmicos, como o recente desgaste na relação do Fluminense com o seu patrocinador e a parceria com a Traffic. Defensor da separação do futebol do quadro social, o técnico diz que a solução é a transformação em clube-empresa, com diretores, gerentes e presidentes contratados. Somente neste modelo o tetracampeão aceitaria ser dirigente. Ele está habituado a ver técnicos serem trocados no Brasil sem poderem levar o trabalho até o fim, mas garante que não se preocupa. Sobre a seleção brasileira, o técnico tem orgulho de ter sido campeão como preparador físico (1970) e treinador (1994). Ao falar do fracasso em 2006, que recentemente foi lembrado pelos jogadores da atual seleção como algo a ser evitado, Parreira resumiu: "Chegamos como favoritos e perdemos porque a coisa não funcionou como deveria".
Com base na sua experiência, porque o Fluminense é uma marca tão grande e está praticamente falido?
PARREIRA: De um modo geral, todo o futebol brasileiro. Você não admite que estes clubes devam R$250 milhões (Flamengo), Corinthians, R$180 milhões. Estas marcas tinham que ser rentáveis. Eu acho que falta gestão profissional e o clubes se tornarem clube-empresa. Assim que o Real contratou o Kaká e o Cristiano Ronaldo, perguntaram se não era caro. Respondi que era baratíssimo. Em um ano, já vai ter retorno. É mídia forte, a TV Real, publicidade, direitos de TV, camisas, ingressos, estádio cheio. Sempre 80, 90 mil pagantes por jogo. É no lado empresarial que estamos engatinhando. Temos que nos transformar em clube-empresa. A solução é esta. Colocar gente profissional. Diretor, presidente, todo mundo. Separar o futebol do clube social.
É o que começa a ser feito tirando o time das Laranjeiras? \ PARREIRA: Exato. Quando estava no Corinthians, a Hicks Muse queria colocar R$3 milhões por mês. Eles queriam uma condição: que todo o dinheiro fosse para o futebol. Aí, veio a rejeição. O conselho não aceitou. Houve disputa até que foi votado e acabou perdendo. Os clubes não querem abrir mão do lado social. Para isso, só se tornando futebol empresa. Toda receita proveniente iria para o futebol. Aí, sim, cabe um profissional como eu, como outros, porque não precisa lidar com o lado social e político. Você só vai ser cobrado pelos resultados no futebol. Já acontece na Inglaterra, Espanha... “ \