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Ronaldo Angelim, o protagonista de "Nove filhos de Francisca"

Vida do zagueiro daria um filme

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. A partir deste domingo, conheça um pouco\ sobre sua história em Juazeiro do Norte-CE

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Rodrigo Benchimol Direto\ de Juazeiro, CE

GloboEsporte.com

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Nove Filhos de Francisca. Bem que poderia se chamar assim o filme sobre a\ vida de Ronaldo Angelim. Depois de Zezé de Camargo e Luciano (Dois Filhos de\ Francisco) e do presidente da República (Lula, o Filho do Brasil), o zagueiro\ do Flamengo seria um\ personagem com histórias suficientes para emocionar milhões de brasileiros.

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Família de Angelim quase completa - a mãe, Francisca, à esquerda, o pai,\ Antônio, à direita, a avó, Antônia, sentada. Fora o primeiro homem à esquerda,\ os outros na foto são irmãos

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Do nascimento em São\ Paulo, em 1975, ao gol que garantiu o Campeonato Brasileiro de\ 2009 para o Flamengo, foram vários capítulos comuns a boa parte da população\ nordestina. É por isso que o GLOBOESPORTE.COM resolveu contar, em uma série de\ reportagens, a partir deste domingo, um pouco da trajetória de um rapaz que\ esteve no fundo do poço, literalmente, mas conseguiu escrever seu nome na\ história do clube mais popular do país.
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\ O pai de Ronaldo Angelim, Antônio, trabalhava em São Paulo quando o\ quarto filho nasceu por lá. Pouco tempo depois, ele, Francisca, Angelim e seus\ três irmãos mais velhos voltavam para o interior do Ceará. Foi na humilde\ cidade de Porteiras, na Região do Cariri, que a família continuou crescendo.\ Mesmo com todas as dificuldades.
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\ Angelim chegou a morar com a avó, Antônia, atualmente com 93 anos, por algum\ tempo na vizinha Juazeiro do Norte, conhecida por ser a terra de Padre Cícero.\ Dos três aos sete anos, o zagueiro estudou no colégio Irmã Neli. Neste sábado,\ ele pôde reviver um pouco deste passado em uma visita surpresa. 

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Uma das casas que Angelim morou durante sua infância em Porteiras, no Ceará\

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- Eu ia para o colégio de calça azul, camisa branca e tênis conga. Mas era\ bem diferente, havia um parque enorme e não tinha essas árvores. Tanto que nós\ jogávamos bola nessa área. Havia sempre um torneio em que o time campeão tinha\ o direito de escolher os melhores brinquedos. Todos os meus amigos sempre\ escolhiam os carros. Eu, sempre a bola. Minha avó ficava louca, porque eu\ ficava chutando a bola dentro de casa, sujando as paredes... Mas isso já tem 30\ anos. Nem a Barra da Tijuca existia direito nessa época – relembra Angelim.
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\ Na visita, ele foi recebido por Maria Guiomar, que trabalha no colégio desde\ 1972 e é coordenadora atualmente. Ela informou ao zagueiro que Socorro,\ professora de Angelim, faleceu há quatro anos. Também deu uma outra notícia,\ que passou a ser comum quase tudo ligado à infância do jogador.
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\ - Infelizmente, não temos nenhum registro dele aqui. É que de dez em dez anos\ nós incineramos todos esses documentos. É muito difícil arquivar tudo, por\ falta de espaço e para não dar traça – explicou Guiomar.
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\ Realmente o passado da família Angelim só está gravado na memória. A infância\ do zagueiro e de seus irmãos foi tão pobre que não existem fotos de quando eles\ eram pequenos. Nem mesmo está de pé uma das casas em que ele morou depois dos\ sete anos.
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\ - Infância é uma coisa que não tem preço. Sempre me emociono quando volto a\ Porteiras. A casa em que eu morava nem existe mais. Parecia uma choupana de\ índio, onde tinham cobras e ratos nas telhas, o chão era de terra, as paredes\ de barro... Mas vida no sítio era assim mesmo. Sempre tinha de acordar às 3h da\ madrugada para buscar água distante – conta Ronaldo, um dos filhos que mais\ ajudavam no sustento do lar.
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\ Desde cedo ele era um dos que acompanhavam a mãe no trabalho braçal na roça,\ enquanto Antônio trabalhava como vaqueiro ou em diversos outros serviços em São Paulo.
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\ - Eu sofri muito, mas era feliz e me sentia rica. Na minha casa meus filhos\ nunca passaram fome, mesmo sendo nove bocas para comer. Meu marido trazia a\ carne e eu ajudava com um dinheirinho ganho pegando na enxada. Toda noite eu ia\ contar para ver se todo mundo estava lá. Eram seis filhos dormindo num quarto e\ três no outro. Sempre disse para eles: nunca queiram aquilo que vocês não podem\ ter – diz Dona Antônia.
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\ Além da ajuda na roça e de buscar água no fundo do poço de madrugada, Ronaldo\ Angelim também costumava entregar leite nas chácaras da região na garupa de um\ jumento. Mesmo assim, ele conseguia o milagre da multiplicação do tempo.\ Afinal, depois do trabalho, ainda ia para o colégio (estudou até a antiga 5ª\ série) e brincava.

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Angelim e Dona Guiomar na sala de aula em que ele estudou quando era\ criança, em Juazeiro do Norte

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- Além do futebol, eu também gostava de caçar passarinhos. Mas é melhor não\ falar muito disso, porque hoje é proibido – brinca o zagueiro.
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\ Sem qualquer tipo de luxo, o rádio era um dos objetos de mais valor na casa.\ Nele, escutava os forrós de Luiz Gonzaga, as músicas típicas das quadrilhas de\ São João e, principalmente, os sucessos de Amado Batista e Reginaldo Rossi. A\ memória, porém, não guarda nenhuma canção que marcou sua infância.
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\ Sem registros fotográficos ou boletins do colégio, a vida do zagueiro só passou\ a ser escrita depois do início da carreira no Icasa, principal time de Juazeiro\ do Norte. Só mesmo um filme poderia mostrar ao Brasil o que a família Angelim\ passou antes da fama.
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\ - Minha vida realmente daria um filme. Mas se fizessem mesmo esse filme e\ contassem com fidelidade como tudo aconteceu de verdade, seria 150 vezes pior\ do que vocês estão escutando falar – diz Ronaldo Angelim, um dos nove filhos de\ Francisca.

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