Ovos e omelete

HELIO PAULO FERRAZ

Publicado no jornal O Globo - 7/dez

A leitura atenta de parte do noticiário recente deixa transparecer certo desdém quanto ao esforço que permitiu a ascensão do Flamengo no Campeonato Brasileiro. Parece-me impróprio afirmar que nosso time não possa ter um custo próximo ao do São Paulo, campeão antecipado de 2007. A diferença de resultado entre os dois times se explica pelo fato de o Flamengo só ter consolidado sua equipe no segundo semestre. Se o trabalho da escalação rubro-negra estivesse completo no início da competição, certamente disputaríamos o título com o atual campeão.

Quanto a um possível crescimento do endividamento, qualquer pessoa sabe que o valor absoluto de endividamento, por si só, pouco revela. O que importa é sua relação com o faturamento. Tomemos como exemplo a administração do Flamengo, em meados da década de 90, quando o faturamento também cresceu numa razão superior ao endividamento.

A folha de futebol do Flamengo em relação ao faturamento é das melhores do Brasil, posto que a receita também é uma das maiores. Além de recordista de bilheteria, a renovação dos contratos de transmissão do Campeonato Carioca e a do Brasileiro acenam com expressivo aumento de cotas. Também é importante citar a normalização do patrocínio da Petrobras, com o "Time Mania".

É inconteste a evolução do resultado em campo do Flamengo, desde o final de 2005: em nove partidas, ganhamos seis e empatamos três jogos. Depois, vencemos a Copa do Brasil e chegamos à Libertadores da América, pela primeira vez em muitos anos, além das conquistas da Taça Guanabara, do Campeonato Carioca de 2007 e o bom resultado no Campeonato Brasileiro 2007, o que nos leva mais uma vez à Libertadores. Não há crescimento sem investimento, e não há investimento sem poupança. A disciplina financeira é imprescindível, mas não pode ser justificativa para não termos uma equipe à altura de nossa dimensão. Ninguém faz omelete sem quebrar o ovo.

HELIO PAULO FERRAZ é empresário e foi presidente do Flamengo.