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Meu time?

Se sou Flamengo? Depois de passar uma carreira inteira tentando me ocultar atrás de falsos pudores, posso lhe garantir que a pergunta procede. Sim, sou Flamengo.João Areosa - Jornal dos Sports

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Meu time?

Texto de João Areosa areosa@jsports.com.br

Não, meu caro leitor, de forma alguma vou ficar daqui a expor as emoções e os sentimentos da minha estréia neste jornal do qual fui leitor por anos e anos. Jornal de Mario Filho e Nelson Rodrigues. Ah, veja você quanta responsabilidade, principalmente para um colunista enferrujado que está sem escrever há três meses e que anda a necessitar de lubrificação urgente, no capricho.

Contente, sim. Nervoso, não. Então, bola pra frente, até porque nervosismo de estreante é conversa fiada inventada pelos técnicos de futebol, notadamente pelos treinadores de seleção brasileira.

Nervosismo de estréia... ora não me venham com essa chatice. Se um time padece de nervosismo de estréia, que comece a competição pela segunda partida. Estamos conversados e fim de papo.

Papo que neste exato momento passo a travar com o leitor, tentando me refazer emocionalmente das loucuras das últimas tardes de Flamengo (Meu Deus, que torcida é essa?), que andam a me causar nostalgias e saudades dos tempos em que o futebol era jogado com amor e alegria.

Saudades dos tempos em que ia, eu e meus irmãos, aos estádios pelas mãos do meu pai, o velho Areosa, que resolveu nos cobrir a alma de vermelho e preto. Vermelho e preto dos pés à cabeça. Sem pudor algum.

Garoto ainda, assisti de pé, imprensado, pisado, amarrotado, àquela partida contra o América que valeu um tricampeonato. Noite em que Dida encheu as medidas dos que pela bola nutrem algum amor. Noite em que Dida encheu as redes do bravo América. Um adversário de dar gosto. Ah, que noite, garoto!

Se sou Flamengo? Depois de passar uma carreira inteira tentando me ocultar atrás de falsos pudores, posso lhe garantir que a pergunta procede. Sim, sou Flamengo. E se porventura algum leitor resolver achar que este cronista não já não merece ser levado a sério, posso lhe afirmar que desta tribuna não distorcerei fatos e acontecimentos. Sempre vivi dos meus salários, nunca de indignidades ou vilezas. Não vou mudar agora depois de tantos anos de batalha.

Sim, sou Flamengo. E como é gostoso poder assinar tão atrevida e deslavada confissão. Envelhecer tem lá suas vantagens.