Fábio Justino: ‘A Nação sempre soube muito bem valorizar a raça’
Leia entrevista com torcedor que lidera o blog Magia Rubro-Negra, no Dia da Consciência Negra
Por Da equipe do site oficial do Flamengo - em
No Dia Nacional da Consciência Negra, nada melhor do que entrevistar um torcedor que simboliza a raça negra e a raça rubro-negra. Fábio Justino, 32 anos, carioca, morador de Nova Iguaçu, é um dos criadores do blog Magia Rubro-Negra ( http://magiarubronegra.wordpress.com ), sempre gostou de escrever. Já colaborou com o site oficial do Flamengo. Nas horas que não pensa somente no Flamengo, trabalha na área de Logística em uma multinacional de bebidas. Ele foi convidado pela equipe pelo Nação, a nova seção do site oficial dedicada à torcida, a falar sobre temas relacionados ao Dia da Consciência Negra.
Equipe do Site oficial – O Flamengo tem um caráter multirracial, em sua opinião? Por quê?
Fábio Justino – Tem sim, o Flamengo é e sempre será o clube da massa. Comprovadamente o clube do negro, do branco, do índio, do amarelo, do pobre e do rico. Somos gigantes em todos os aspectos que alguém queira discutir. Acredito que dessa inveja venham as falidas tentativas em tentar diminuir a importância do Flamengo por ser o clube tanto da minoria como da maioria, o clube do Manto quase onipresente. Acredito que o início da história rubro-negra consiga explicar um pouco dessa pluralidade racial, desde o campo improvisado da Praia do Russel, o terreno do Paissandu, a alegria moleque dos rapazes do Flamengo, as festas da República da "Paz e Amor" até as intensas comemorações carnavalescas com seus reco-recos.
Equipe do Site oficial – Alguns torcedores de outros times dizem que o "Flamengo é &8220;time de negro". Isso te incomoda?
Fábio Justino – Sinceramente, não. Em minha opinião isso não deixa de ser uma forma irracional de tentar diminuir a importância da torcida rubro-negra. Mas a Nação sempre soube muito bem valorizar a raça que, ao longo do século, contribuiu e ainda contribui muito para a ascensão do próprio Flamengo, do Brasil e do mundo. Alguém consegue imaginar o futebol sem Pelé e Garrincha? O Flamengo sem Dida, Leônidas da Silva, Zizinho, Índio, Adílio, Andrade e Júnior? Ou um mundo sem banco de sangue, carro sem marchas e avenida sem semáforos?
Equipe do Site oficial – Quando os torcedores de outras equipes gritam no Maraca "silêncio na favela", o que pensa disso?
Fábio Justino – Não gosto, mas não é pelo tom preconceituoso. É porque toda vez que os adversários cantam isso significa que estamos perdendo (risos). Mas de verdade mesmo, se há uma coisa que essa expressão causa em mim é orgulho. Isso reflete algo que a torcida do Flamengo faz – muito melhor que qualquer outra – é pegar algo que os torcedores rivais usam como provocação e transformar em festa na arquibancada. Este grito foi um grande exemplo disso, pegamos este canto, trocamos o "silêncio" pelo "festa". Pronto! Virou 'hit' na arquibancada e casou perfeitamente com a volta do Adriano Imperador, que é um rapaz nascido e criado em uma favela carioca. Lugar de pessoas menos favorecidas financeiramente, dignas e de boa índole que acabam convivendo de uma maneira mais próxima a criminalidade. Mas a Nação Rubro-Negra, com seu bom humor, tem derrubado estereótipos há muito tempo cristalizados em nossa sociedade. O rubronegríssimo Ruy Castro definiu muito bem isso quando escreveu: "O Rio foi seu berço, mas sua casa é o Brasil. Sua camisa vermelha e preta viaja de canoa pelos igarapés; galopa pelas coxilhas; caminha pelos sertões; colore todas as praias; está nos barracos das favelas e nas coberturas tríplex. Suas cores vestem famosos e anônimos, bandidos e vítimas, corruptos e honestos, pobres e grã-finos, idosos e crianças, os muito feios e as muito bonitas"
Equipe do Site oficial – Você ainda sente algum tipo de racismo, ainda que velado?
Fábio Justino – Gostaria muito de responder que não! Mas infelizmente eu ainda sinto e vivo isso, por incrível que pareça, passo por isso vez sim, outra também. Acreditar que não existe racismo no Brasil é perda de tempo. É inegável que tenha diminuído bastante, mas sim, de uma forma muito velada ele ainda existe. Está no olhar das pessoas, nas atitudes, nas piadas, nos discursos pejorativos. É claro que não são apenas os negros que sofrem com o racismo. Acredito que o caminho para neutralizar a questão racial no Brasil tenha algo em comum com o tratamento para o alcoolismo: o primeiro passo para superar é simplesmente aceitar que o problema existe.
Equipe do Site oficial – O que você acha da institucionalização do feriado de 20 de novembro?
Fábio Justino – Nós comemoramos Halloween e dia da mentira, que na minha opinião são datas que nada acrescentam à cultura e ao conhecimento do povo brasileiro. O 20 de novembro é extremamente importante. Porém, não gostaria que este dia fosse transformado apenas em mais um feriado ou um dia para debater a sexualidade de Zumbi e reclamações sobre o excesso de feriados no calendário nacional. Aconselho a todos os rubro-negros uma pesquisa sobre a vida de Zumbi, talvez o maior símbolo de resistência do mundo. O homem que defendia incondicionalmente o importante Quilombo dos Palmares. O dia 20 de novembro cada vez mais deve deixar de ser o dia da Consciência Negra, em homenagem a memória do líder negro Zumbi dos Palmares, para se fortalecer no imaginário nacional como uma data de comemoração e reivindicação para todos os brasileiros. Muitos deles, ainda precisam ter sua existência e direitos reconhecidos. Sem dúvida alguma, a respeitável inteligência de Zumbi e sua luta pela libertação podem perfeitamente abrir um paralelo para a fé e o poder de superação que só o manto rubro-negro é capaz de causar.
Equipe do Site oficial – O Flamengo tem um caráter multirracial, em sua opinião? Por quê?
Fábio Justino – Tem sim, o Flamengo é e sempre será o clube da massa. Comprovadamente o clube do negro, do branco, do índio, do amarelo, do pobre e do rico. Somos gigantes em todos os aspectos que alguém queira discutir. Acredito que dessa inveja venham as falidas tentativas em tentar diminuir a importância do Flamengo por ser o clube tanto da minoria como da maioria, o clube do Manto quase onipresente. Acredito que o início da história rubro-negra consiga explicar um pouco dessa pluralidade racial, desde o campo improvisado da Praia do Russel, o terreno do Paissandu, a alegria moleque dos rapazes do Flamengo, as festas da República da "Paz e Amor" até as intensas comemorações carnavalescas com seus reco-recos.
Equipe do Site oficial – Alguns torcedores de outros times dizem que o "Flamengo é &8220;time de negro". Isso te incomoda?
Fábio Justino – Sinceramente, não. Em minha opinião isso não deixa de ser uma forma irracional de tentar diminuir a importância da torcida rubro-negra. Mas a Nação sempre soube muito bem valorizar a raça que, ao longo do século, contribuiu e ainda contribui muito para a ascensão do próprio Flamengo, do Brasil e do mundo. Alguém consegue imaginar o futebol sem Pelé e Garrincha? O Flamengo sem Dida, Leônidas da Silva, Zizinho, Índio, Adílio, Andrade e Júnior? Ou um mundo sem banco de sangue, carro sem marchas e avenida sem semáforos?
Equipe do Site oficial – Quando os torcedores de outras equipes gritam no Maraca "silêncio na favela", o que pensa disso?
Fábio Justino – Não gosto, mas não é pelo tom preconceituoso. É porque toda vez que os adversários cantam isso significa que estamos perdendo (risos). Mas de verdade mesmo, se há uma coisa que essa expressão causa em mim é orgulho. Isso reflete algo que a torcida do Flamengo faz – muito melhor que qualquer outra – é pegar algo que os torcedores rivais usam como provocação e transformar em festa na arquibancada. Este grito foi um grande exemplo disso, pegamos este canto, trocamos o "silêncio" pelo "festa". Pronto! Virou 'hit' na arquibancada e casou perfeitamente com a volta do Adriano Imperador, que é um rapaz nascido e criado em uma favela carioca. Lugar de pessoas menos favorecidas financeiramente, dignas e de boa índole que acabam convivendo de uma maneira mais próxima a criminalidade. Mas a Nação Rubro-Negra, com seu bom humor, tem derrubado estereótipos há muito tempo cristalizados em nossa sociedade. O rubronegríssimo Ruy Castro definiu muito bem isso quando escreveu: "O Rio foi seu berço, mas sua casa é o Brasil. Sua camisa vermelha e preta viaja de canoa pelos igarapés; galopa pelas coxilhas; caminha pelos sertões; colore todas as praias; está nos barracos das favelas e nas coberturas tríplex. Suas cores vestem famosos e anônimos, bandidos e vítimas, corruptos e honestos, pobres e grã-finos, idosos e crianças, os muito feios e as muito bonitas"
Equipe do Site oficial – Você ainda sente algum tipo de racismo, ainda que velado?
Fábio Justino – Gostaria muito de responder que não! Mas infelizmente eu ainda sinto e vivo isso, por incrível que pareça, passo por isso vez sim, outra também. Acreditar que não existe racismo no Brasil é perda de tempo. É inegável que tenha diminuído bastante, mas sim, de uma forma muito velada ele ainda existe. Está no olhar das pessoas, nas atitudes, nas piadas, nos discursos pejorativos. É claro que não são apenas os negros que sofrem com o racismo. Acredito que o caminho para neutralizar a questão racial no Brasil tenha algo em comum com o tratamento para o alcoolismo: o primeiro passo para superar é simplesmente aceitar que o problema existe.
Equipe do Site oficial – O que você acha da institucionalização do feriado de 20 de novembro?
Fábio Justino – Nós comemoramos Halloween e dia da mentira, que na minha opinião são datas que nada acrescentam à cultura e ao conhecimento do povo brasileiro. O 20 de novembro é extremamente importante. Porém, não gostaria que este dia fosse transformado apenas em mais um feriado ou um dia para debater a sexualidade de Zumbi e reclamações sobre o excesso de feriados no calendário nacional. Aconselho a todos os rubro-negros uma pesquisa sobre a vida de Zumbi, talvez o maior símbolo de resistência do mundo. O homem que defendia incondicionalmente o importante Quilombo dos Palmares. O dia 20 de novembro cada vez mais deve deixar de ser o dia da Consciência Negra, em homenagem a memória do líder negro Zumbi dos Palmares, para se fortalecer no imaginário nacional como uma data de comemoração e reivindicação para todos os brasileiros. Muitos deles, ainda precisam ter sua existência e direitos reconhecidos. Sem dúvida alguma, a respeitável inteligência de Zumbi e sua luta pela libertação podem perfeitamente abrir um paralelo para a fé e o poder de superação que só o manto rubro-negro é capaz de causar.