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Entrevista com Dean Bonham

Presidente do Bonham Group fala com exclusividade ao LANCE! Sobre o polêmico projeto do estádio que o Fla quer construir na Gávea. Na conversa, ele garante ser possível viabilizar a arena.

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Presidente do Bonham Group fala com exclusividade ao LANCE! Sobre o polêmico projeto do estádio que o Fla quer construir na Gávea. Na conversa, ele garante ser possível viabilizar a arena.

“É viável um estádio para menos de 30 mil“.

Andressa Reis e Nelson Ayres.\ LANCE  RIO\

O presidente Marcio Braga deposita nele uma grande esperança em viabilizar o seu polêmico projeto de um estádio na Gávea. Dean Bonham visitou o Rio na semana passada e promete investir na idéia. Segundo ele, é possível obter lucro com a venda de naming rights (empréstimo do nome de uma empresa a uma arena por um determinado período) de um estádio pequeno.\ Apesar de toda a animação do empresário, o Flamengo optou por retirar de pauta no Conselho Deliberativo a proposta de contrato. Em atitude elogiada pela oposição, preferiu analisar as propostas da empresa e esperar por outros interessados em investir no clube.\ Nesta conversa, Bonham também fala sobre o Maracanã e o Engenhão, estádios que visitou.\

Lance! : Qual foi a impressão que você teve na visita ao Engenhão?

Dean Bonham: Eu visitei muitos estádios no mundo todo e achei o Engenhão impressionante. O sistema de segurança é absolutamente fenomenal. É high-tech e muito bem planejado. O Engenhão é o que procuramos na industria esportiva. Um espaço com muitas áreas amplas e ao ar livre, por onde muitas pessoas podem transitar sem se sentirem muito apertadas. Além disso, há os efeitos visuais das cores e do design da construção. Tais aspectos têm um “efeito calmante”. Outro aspecto destacado é o fluxo de pessoas dentro do estádio. O torcedor não passará por situações às quais eu estou acostumado: ficar preso e esmagado junto a pilastras e paredes em que é impossível se mexer. Outra coisa que me impressionou foi a visão do campo de todos os assentos. Foi feito um trabalho muito bom de acessos para deficientes nos restaurantes, nos banheiros e na área onde eles assistirão às partidas.

Lance! : E os serviços?

Dean Bonham: Os banheiros são sempre problemáticos nas grandes arenas e, francamente, ainda mais na América do Sul do que em qualquer outro lugar do mundo. Não se pensou muito sobre isso no passado. Não se preocuparam em construir banheiros femininos suficientes e não pensaram em disponibilizar um número razoável de pontos de concessão. Aqui, eles pensaram, colocando de forma estratégica e muito bem planejada mais de 40 pontos de concessão para vendas.

Lance! : Você esperava este nível?

Dean Bonham: Eu não esperava encontrar o que encontrei aqui, sinceramente. Estive muitas vezes na América do Sul nos últimos meses e eu não esperava encontrar algo tão “high-tech” e esteticamente tão impressionante como o Engenhão. Este é o tipo de construção que você poderia encontrar na Europa e nos Estados Unidos. Não digo de uma maneira ofensiva, mas a América do Sul não é famosa por seus estádios modernos.

Lance! : E o Maracanã?

Dean Bonham: Ele também tem alguns méritos muito interessantes. O papel da nossa empresa é ajudar o clube a tomar uma decisão sobre onde o time jogará suas partidas nos próximos 20 anos. Não é um trabalho muito difícil quando você tem uma opção boa e uma ruim, mas nesse caso trata-se de duas oportunidades muito boas. A vantagem do Maracanã é que você tem o nome, a história, a tradição. Isso é muito valioso. Há também a boa localização, por tratar-se de uma região central para o acesso de população. Isso é muito importante. Além disso, foram gastos R$ 250 milhões em reformas, não só no estádio, mas também no Maracanãzinho. Dessa forma, o espaço teve um upgrade e está muito mais moderno.

Lance! : Qual dos dois seria mais rentável em sua opinião?

Dean Bonham: Sem dúvida, ambos os estádios serão rentáveis para o Flamengo. Aliás, serão rentáveis nos próximos 20, 25 anos. O que eu espero que esteja acontecendo é a criação de um conceito que eu chamo de estádio “amigável ao torcedor”. O Maracanã é um exemplo, agora que foi reformado e tem mais banheiros, pontos de concessão de venda e assentos confortáveis. A população daqui é de cerca de 10 milhões de pessoas, um número suficiente para que haja dois ou três estádios de futebol (citou o Caio Martins de exemplo, mas não conhece São Januário).

Lance! : Como o senhor analisa o projeto do estádio na Gávea?

Dean Bonham: A oportunidade de construção na Gávea é muito interessante para mim e estamos criando um plano de negócios para estudar o assunto e ver como será daqui a três, cinco anos. Mas de qualquer forma, o Estádio da Gávea é apropriado. Em muitos dos jogos do Flamengo, 20 mil ou 25 mil assentos são mais do que suficientes. Mas há outras partidas nas quais você precisará de muitos mais lugares. Quando pensarmos em uma arena menor, com cerca de cinco mil lugares e algumas lojas em volta, a idéia de encaixa perfeitamente na área da Gávea. Do meu ponto de vista – não sou político, nem morador – parece que combina bem com a região.

Lance! : Seria bom para o time de futebol ter dois estádios?

Dean Bonham: Quando você vê o Flamengo não como apenas um time de futebol, mas como uma companhia de esporte e entretenimento, isso permite que ele acomode, virtualmente, qualquer tipo de evento esportivo ou de entretenimento, na Gávea ou no Engenhão / Maracanã. Quando você combina a Gávea com o outro estádio, pode optar por jogar partidas menores na sede do clube e partidas maiores no outro. Nós recomendamos que, na Gávea, seja construído um estádio para menos do que 30 mil pessoas. Sei que isso pode soar controverso.

Lance! : Seria Viável um estádio menor do que 30 mil lugares?

Dean Bonham: Fazem muito sentido ter uma arena para 5 mil, 30 mil ou 80 mil pessoas, que seja. Entretanto, temos de analisar a questão prática e os obstáculos. Por enquanto, são só opiniões. Nosso trabalho é transformar essas opiniões e obstáculos em conceitos que permitam ao Flamengo fazer uma decisão não apenas baseada em seus interesses econômicos, mas também no melhor para a torcida.

Lance! : Como ficariam os naming rights com dois estádios diferentes?

Dean Bonham: O que faremos é estipular dois naming rights: um para a Gávea e outro para o estádio que for escolhido. A forma que eu venderia seria: você teria um naming right para o complexo da Gávea e tudo o que cerca aquele complexo. E outro naming right para o complexo do Maracanã / Engenhão, não apenas para o estádio. O que você faz para tornar a negociação realmente atraente para os parceiros é oferecer benefícios no complexo do outro (o da Gávea teria benefícios do Engenhão e vice-versa). Mas nunca é fácil arrumar parceiros que se entendam.

Lance! : Você esta decidido a investir nesse projeto?

Dean Bonham: É uma oportunidade de negócio fantástica. Estou abrindo um escritório aqui no Rio. Nos Estados Unidos, o universo esportivo rende US$ 100 bilhões (R$ 190 bilhões) por ano. É muito dinheiro. O que move essa industria é a paixão do torcedor. Sinceramente, os americanos não têm idéia da dedicação do brasileiro. Quando você me pergunta se existe certeza em tocar o projeto da Gávea, a respostas é não. Mas há tantas oportunidades de negócio aqui...

Lance! : Quando você acha que o clube poderia ganhar nesta operação?

Dean Bonham: É muito complicado dizer quanto o Flamengo ganharia. Primeiro, porque cada estádio gera uma quantia diferente. Mesmo se pudesse dizer por alto um valor mínimo e um valor máximo que o Flamengo ganharia, eu não diria. Passei os últimos 25 anos da minha vida às custas das minhas opiniões.