Notícias

Entrevista com Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro

Jornalistas, autores de dois novos livros sobre o Flamengo, estarão no lançamento desta terça, 24 de novembro, no Rio

Por - em
Carlos Eduardo Mansur é repórter do caderno de esportes do jornal O Globo. Tem passagens pelo Lance! e pelo próprio Clube de Regatas do Flamengo, como assessor de imprensa do Departamento de Futebol. Luciano Cordeiro trabalha no GloboEsporte.com, depois de ser editor do caderno de esportes do Jornal do Brasil. Ambos sãos os autores dos mais novos livros sobre o Flamengo no mercado editorial: "Meu maior prazer" e  "O time do meu coração" - lançamentos da Editora Leitura em parceria com o Departamento de Marketing do Clube.

Com 296 páginas,"Meu maior prazer" é o primeiro livro da\ coleção de estreia do selo "Paixão entre Linhas", da Editora Leitura. A\ obra traz 32 relatos de personalidades\ rubro-negras, em entrevistas realizadas e organizadas pelos jornalistas - entre elas conversas com o Imperador Adriano e com o sérvio Petkovic. Já "O time do meu coração" é um livro de bolso, o chamado pocket book, organizado pelos mesmos\ autores, com um resumo da história do Flamengo, com títulos, histórico\ década a década, grandes ídolos, maiores artilheiros e jogos\ inesquecíveis.

Os dois livros serão lançados nesta terça, dia 24, às 19h, na livraria Saraiva do shopping\ Rio Sul, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

Leia aqui entrevista com os autores, divulgada pela assessoria de imprensa da Editora Leitura.

O que faz do Flamengo um clube diferente de todos os outros? Por que o torcedor rubro-negro deve ter orgulho de seu clube?
Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - Acima de tudo, o que faz o Flamengo diferente é sua torcida. Não apenas pelo tamanho, por ser a maior do país, mas pelo envolvimento com o clube. A torcida ajudou a construir o perfil de um clube que desperta paixões extremadas, e acima de tudo o perfil de um clube que, como nenhum outro, é uma expressão fiel da sociedade brasileira e carioca. É impossível falar em Rio de Janeiro sem falar em Flamengo, é impossível falar em futebol brasileiro sem falar no Flamengo. Além disso, tem uma composição única entre os clubes brasileiros: é maioria em todas as classes sociais da sociedade carioca, dos mais abastados aos mais pobres. Além disso, é o único clube verdadeiramente nacional, com a maior parte de sua torcida situada fora do Rio de Janeiro. Além disso, somando-se as torcidas dos outros três grandes clubes cariocas, o número não alcança o de torcedores do Flamengo.

Cite um jogo inesquecível na história do Flamengo.
Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - A paixão por um clube está profundamente ligada à vida e à identidade de cada brasileiro. Sendo assim, cada torcedor vive de forma particular o amor por um clube. E se este clube é o Flamengo, dono da maior torcida do país, dono de um universo de seguidores com perfis tão distintos, quase um extrato da sociedade brasileira, é natural que cada torcedor, seja pelo local onde vive, seja pela geração a que pertence, seja pelas experiências pessoais de vida que teve, encontre razões para eleger um jogo ou um momento da vida do clube. Claro que a vitória sobre o Liverpool, por 3 a 0, que deu ao Flamengo o título mundial de 1981, representa o ápice da história rubro-negra e o momento de apogeu da geração comandada por Zico. Mas certamente quem viveu a década de 40 irá lembrar para sempre o gol de Valido, no tricampeonato de 44; quem estava no Maracanã nos anos 50 irá recordar a soberba atuação de Dida no tri de 55; há os que até hoje fecham os olhos e veem a cabeçada de Rondinelli em 1978, na conquista que inaugurou a sequência de títulos do Flamengo de Zico; assim como os mais novos dificilmente deixarão de lembrar o gol de falta de Petkovic no tri de 2001. Enfim, o Flamengo pertence à torcida, a uma torcida heterogênea como o Brasil.

Quais os maiores ídolos da história do clube?

Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - Em alguns clubes, esta pergunta gera discussões. No Flamengo, não. Impossível falar em Flamengo sem falar em Zico, destacadamente o maior ídolo. Mais do que isso, um verdadeiro símbolo do clube, um sinônimo de Flamengo. No entanto, pode-se dizer que uma das razões do impressionante fenômeno de popularidade que o clube representa resulta do fato de ter tido, ao longo de toda a sua história, boa parte dos principais ídolos do futebol brasileiro. Entre os anos 30 e 40, teve Leônidas da Silva e Domingos da Guia, depois surgiu Zizinho que, para algumas gerações, foi melhor do que Pelé. Mais tarde viriam Evaristo, Zagallo e Dida, nos anos 50. No início dos anos 70 começa a surgir a geração Zico que, no fim da década e ao longo dos anos 80, protagoniza a maior sequência de conquistas da história do Flamengo, com jogadores como Leandro, Andrade, Adílio e Júnior. Ainda nesta década, o brilham com a camisa rubro-negra nomes como Bebeto, Renato Gaúcho. Em 1995 o clube contrata Romário e, em 2001, ganha um tricampeonato com jogadores do porte de Edílson, Gamarra e Petkovic.

No processo de elaboração dos livros, houve alguma informação sobre o clube que os surpreendeu?
Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - Deparamos com várias, especialmente durante as entrevistas para a elaboração do livro-memória "Meu maior prazer". Por exemplo, na entrevista com o radialista e ex-técnico do Flamengo Washington Rodrigues, descobrimos que uma crise entre Romário e a torcida foi resolvida, minutos antes de um jogo, com uma ida do atacante a um bar nas imediações do Maracanã onde torcedores se concentravam. Convenhamos, é algo inimaginável. Nos surpreendeu a forma emocionada como Zagallo, um homem que ganhou quatro Copas do Mundo, falou sobre a conquista do tricampeonato de 2001 pelo Flamengo. Ele chorou e não conseguiu falar. A trajetória de vida de jogadores como Ronaldo Angelim é algo que chama a atenção, também. Outro momento revelador foi a conversa com Petkovic. Certamente, a torcida sequer imagina que o herói do tri de 2001 quase não jogou, pensou em não entrar em campo por causa de problemas salariais no clube. Outra surpresa foi o episódio revelado por Renato Gaúcho sobre a intimidade do time campeão brasileiro de 1987, formado quase que totalmente por estrelas. Numa conversa com o técnico Carlinhos, ele disse claramente que se recusava a cumprir a determinação do treinador de ajudar na marcação aos laterais adversários. Para encerrar a discussão, coube a Zico, a estrela maior, dizer que ele próprio se prontificava a fazer tal marcação. Nas entrevistas com os campeões mundiais de 1981, histórias incríveis sobre os bastidores do melhor time que o Flamengo já teve vieram à tona. Acima de tudo, nos chamou atenção como o Flamengo marcou profundamente a vida de todos estes personagens.

Qual o episódio mais curioso da história do Flamengo?
Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - Numa análise bem ampla, o que mais impressionou foi ver como o Flamengo, desde os seus primeiros dias até hoje, num mundo em que o mercado do futebol mobiliza milhões, sempre conviveu com a crise financeira, com recursos aparentemente escassos. E nunca deixou de vencer, de crescer. No início não tinha campo para treinar. Mais tarde, campeões dos anos 50 nos revelaram que havia atrasos salariais. Atualmente, tais problemas tornaram-se recorrentes. Enfim, a força do clube nunca permitiu que o Flamengo se tornasse menor.

Para terminar, o que acham da dobradinha entre futebol e literatura?
Carlos Eduardo Mansur e Luciano Ribeiro - Um futebol tão rico dentro de campo como o brasileiro, merece ter uma produção literária à altura, produzindo memória, registros desta história para futuras gerações. E este é o grande mérito da iniciativa da Editora Leitura.