Notícias

Entrevista com Adriano

Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, Adriano faz balanço de seu feliz retorno ao futebol brasileiro

Por - em

No semblante da mãe, a certeza da volta por cima do Imperador

Eduardo Peixoto e Clícia Abreu Rio de Janeiro

Ao chegar em casa e olhar a mãe Rosilda, Adriano tem certeza de que abandonar os euros do Inter de Milão em busca da felicidade no Flamengo faz todo o sentido. Mesmo com alguns “senões”, como a perseguição diária da indústria de celebridades, o Imperador não esconde que a sua vida mudou. \ Depois de quase um mês e meio em silêncio, o jogador conversou com o GLOBOESPORTE.COM e confirmou que soube de propostas européias para abandonar o Brasil. Educadamente, disse “muito obrigado pela lembrança”, mas reiterou o compromisso até a Copa do Mundo de 2010 com o Rubro-Negro. \ A artilharia momentânea do Brasileiro, com dez gols em 15 jogos, o aproxima da seleção brasileira. E a forma física também. Adriano está apenas um quilo acima do ideal, mas nem se preocupa com isso. \

- É fácil perder com a sequência de jogos.

Difícil é se livrar da mira da imprensa ávida por notícias de sua vida particular. Por isso, deixou de ir a grandes eventos públicos. Prefere fazer suas “coisinhas”, como nomeia, dentro de casa. Mesmo assim, desafia quem o critica a provar:

\ - Para queimar a minha imagem tem que ser algo muito forte. As pessoas estão acostumadas comigo e sabem minha maneira de pensar. \ O sorriso fácil e as brincadeiras juvenis de uma “criança” de 27 anos conquistaram o grupo rubro-negro. Treino após treino a interação e a confiança no astro da equipe. Talvez porque ele se comporte como mais um: \

- Eu não mordo – disse, antes de iniciar a entrevista.

Confira a íntegra do bate-papo, no CT Ninho do Urubu:

GLOBOESPORTE.COM: \ Equipes europeias procuram o seu empresário, Gilmar Rinaldi, insistentemente tentando contratá-lo . Por quê?\

Adriano: Por enquanto, vim aqui para o Brasil para tentar construir de novo minha vida. Ficar perto da minha família e das pessoas que querem meu bem. Escolhi o Flamengo porque é meu time, de onde saí e comecei a crescer. Então não estou pensando em sair agora porque estou feliz e espero permanecer por muito tempo. O futuro quem sabe é Deus e vou decidir no momento certo.

Mas o Gilmar passou alguma proposta específica? Chegou-se a falar em um interesse do Milan...

Vi nos jornais. Gilmar foi à Itália nesta semana resolver umas coisas minhas com o Inter, mas não me passou nada. Ouvi falar e fico muito feliz de ter essas propostas. É legal saber que ainda tenho essa importância no futebol mundial. O objetivo é continuar assim no Flamengo para que tiver de voltar para lá no futuro, estar com outra cabeça.

Seu contrato aqui termina em 2010. Já é hora de falar em renovação?

Ainda é cedo. O Flamengo serve para mim como uma casa, que me acolheu muito bem. Estou tentando ficar este tempo aqui, até 2010, para que eu possa retomar meu caminho no futebol e, então, espero que possa dar certo. No futuro vou ver. Se tiver que ficar aqui, vou ficar, se tiver de sair, vou ver. Mas hoje estou voltado completamente para o Flamengo.

O Dunga deixou as portas da seleção brasileira quando você entrar novamente em forma. O momento do retorno está chegando?

A cada dia que passa me sinto muito melhor. Estou bem perto daquilo que posso render dentro de campo. Como o Dunga falou... todo mundo conhece meu futebol, se eu estiver bem posso ajudar a seleção. E fico feliz por ele contar comigo. Tenho que fazer boas partidas aqui no Flamengo para que eu possa voltar.

Recentemente, você admitiu que estava três quilos acima do peso. Já atingiu o patamar ideal?

Estou quase. Falta mais um quilo. Mas isso com os jogos consigo rápido porque estamos jogando direto. A concentração começa praticamente três dias antes da partida e me ajuda porque começo a me alimentar melhor e dou uma segurada. Nem estou preocupado com o peso porque é natural perder com os jogos. E sou um cara que adoro treinar, sempre fico depois das atividades. Estou voltando. Um pouquinho mais de paciência porque isso vem naturalmente.

É chato pegar o jornal e ler: “Adriano estava no Salgueiro”. Nunca pisei lá"

Enquanto você é líder da artilharia, o Flamengo tem uma campanha irregular e patina no meio da tabela. Não é raro alguém dizer que o time não merece um atacante tão bom...

Flamengo tem um grupo maravilhoso, time maravilhoso. Tenho que ajudar minha equipe. O grupo é forte. Estou feliz por disputar o Brasileiro com eles. Temos tudo para chegar ao G-4 e até disputar o título.

\ Qual o balanço que você faz destes três meses de Flamengo?\

Se eu for botar de 100% acho que tenho 60%. Comecei fora de ritmo e agora que estou começando a ter uma margem de crescimento. Posso fazer muito mais, ajudar minha equipe muito mais. Mas tem que ter paciência, trabalhar bastante para que possa vir mais rápido.

E fora de campo, o que esse retorno trouxe de benefícios?

Melhorou tudo. Estava conversando sobre isso mesmo com a minha mãe. Parece que tirei um peso das costas. Parecia que tinha uma corcunda lá (na Itália). E desde o momento que vim para cá, isso clareou. Venho para o treino com a maior felicidade do mundo. Nada melhor do que estar no seu país e fazer o trabalho bem.

É chato pegar o jornal e ler: “Adriano estava no Salgueiro”.

O que você deixou por lá? Tinha iate, casa... como resolveu estes problemas domésticos?

Por enquanto está tudo tranquilo. Meu barco está lá e minha casinha também. Está sendo bem cuidada. Não penso muito no objeto, penso na minha vida pessoal. Algumas coisas minhas que estão lá e voltando para o Brasil, mas com o tempo vou acertando.

Toda semana sai em jornais que o Adriano estava na Rocinha, em tal lugar. Como lida com esse assédio? Está pior do que imaginava?

É como eu falo. Isso é boato. Tem que provar o que está falando. Muita gente fala por maldade mesmo. Se quiser me criticar pelo que fiz de errado, tudo bem. Mas pelo que aconteceu realmente e não pelo que não ocorreu. É chato pegar o jornal e ler: “Adriano estava no Salgueiro”. E nunca pisei no Salgueiro.Adriano estava em tal lugar... Acho que tem que ter um pouquinho mais de respeito. Por isso que parei de falar com a imprensa. Estava me comunicando com todo mundo, mas quando vejo esse tipo de coisa incomoda. Não gosto de falar, não é por marra. Isso incomoda a minha família. Minha mãe liga desesperada e tenho que explicar. Mas tento levar, não vai me atrapalhar porque estou com a consciência tranquila.

E essa fama de pegador. Tem estimativa de quantas mulheres já pegou?

(risos) Que isso, rapaz? Não tenho objetivo. Está maluco? Sou um cara tranquilo. Quero muito arrumar uma pessoa para ficar junto, mas sei que é difícil para as pessoas se aproximarem. É difícil arrumar alguém que goste de você e não daquilo que tem. Prefiro ficar solteiro a ficar com alguém que não me ajude. Então, vou me virando, tentando fazer da melhor forma possível e quando encontrar a pessoa certa vou me tranquilizar.

Está namorando?

Hoje não estou namorando. Queria muito. Espero que essa pessoa possa surgir o mais rápido possível.

Mas o assédio feminino é forte nas noitadas...

Isso é verdade. Por incrível que pareça não estou nem mais saindo. Até nas minhas folgas quando a gente joga domingo alguém sempre fala. Então é melhor ficar em casa, faço minhas coisinhas dentro de casa porque ali tenho minha privacidade.

Você se acha bonito?

(gargalhadas) Bonito, não. Simpático. Penso que sou. Mas não sei também...

A mulherada acha...

Obrigado (risos). Mas não sou um cara muito vaidoso não. Sou normal, gosto de me dar bem com todo mundo e vou levando.

E os namoros com as famosas foram complicados?

Tem que saber administrar, mas não dá para segurar porque a pressão é muito grande. Sempre me dei muito bem com minhas namoradas, nunca fiz alguém sofrer porque fiz alguma coisa. Nós terminamos porque não deu mais. Os dois conversaram e chegaram a uma conclusão. Hoje em dia namoro está igual casamento e isso complica um pouco. Acaba terminando um relacionamento que se fosse em condições normais daria certo.

Vou à rua tranquilamente e as pessoas param e dizem que poucos fariam o que fiz. Isso já basta. "

Quer casar na igreja?

Não tenho esse sonho, mas se a mulher que estiver comigo tiver, será realizado. Mas não sou o tipo da pessoa que gosta de cerimônia. Minha mãe com certeza vai amar. Quero casar, mas não na igreja.

Destas coisas que foram publicadas sobre suas ausência nos treinos o que é verdade? Falou-se até em vasectomia...

Quero ver se é verdade. Nunca fiz isso (vascetomia) na minha vida, pelo amor de Deus. Para ver como são boatos. Duas vezes que realmente errei. Assumo que não compareci aos treinos, mas as outras duas eu avisei. Admito o que faço de errado e escuto sempre. Só não vou aceitar quando colocam a coisa errada. Não é justo. Isso acaba queimando a pessoa. E para queimar a minha imagem tem que ser algo muito forte. As pessoas estão acostumadas comigo e sabem minha maneira de pensar. Expliquei o porquê vim ao Brasil. Já falei que na folga vou beber minhas cervejas com meus amigos. Não esquento. Vou à rua tranquilamente e as pessoas param e dizem que poucos fariam o que fiz. Isso já basta.

Acha que o clima no clube melhorou com a nova comissão técnica, depois da saída do Cuca?

Acho que nunca ninguém teve problema sério, sério com o Cuca. Vai muito da pessoa. Com o Andrade a gente se sente melhor e o grupo aceitou com mais facilidade. Conheci pouco tempo do Cuca e nem posso falar muito dele. Mas minha impressão é que o elenco aceitou a entrada do Andrade. Pessoa maravilhosa, que gosta de se comunicar com a gente. É legal para o grupo, que se sente mais à vontade para expressar suas opiniões.

Em 2007, você reconheceu que teve problemas com o álcool. Já está superado?

O problema que tive foi por causa do meu pai (falecido em 2004). Comecei com depressão e tive isso. Não significa que agora esteja. Há três anos você ia olhar para mim e veria que eu não estava bem. Hoje chego em casa, olho para minha mãe e o semblante dela é outro. Significa que dei a volta por cima. Toda vez que falo com a minha mãe e ela me chama de meu filho é porque está bem. Se chamar de Adriano é porque não está bem. Hoje posso falar isso. Passei desta doença e estou muito bem. Sei que tenho meu limite na hora da folga, mas isso não vem ao caso. Cada um tem sua vida, faz o que quer. Estava muito mais acima do peso naquela época porque bebia muito e isso me fazia mal. E hoje graças a Deus, estou muito bem.

Um Adriano feliz?

Com certeza. Sempre... (risos)