Mais do que um "exemplo de remador", um "exemplo de brasileiro". Stuart Angel, ex-atleta do Flamengo e militante da juventude na luta contra a ditadura, foi morto em 1971, mas sua vida dedicada não só ao clube como, principalmente, ao país, nunca será esquecida. Prova disso foi a inauguração de um memorial em sua homenagem na manhã desta quinta-feira (09.12) na sede náutica do Flamengo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, que foi como uma segunda casa para Stuart.

O ato, promovido pelo Clube de Regatas do Flamengo e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), contou com diversas presenças da alta sociedade carioca, autoridades, amigos de Stuart e remadores do Rubro-negro. A presidente Patricia Amorim, apesar de não ter convivido com o homenageado, reconheceu toda a luta dele vestindo as cores do clube e lutando pelo país.

"Tenho a convicção de que, nestes 115 anos de história, o Flamengo cria muito mais do que grandes atletas, mas também grandes pessoas. O Stuart é uma prova disso. Tudo o que ele fez merece ser homenageado. Sei que todos aqui estão muito emocionados e, para mim, para o Flamengo, é uma honra enorme poder fazer parte deste momento. Fica a mensagem aos mais jovens de que não há vitória sem luta e não há futuro sem se lembrar do passado; da história", afirmou.

A irmã de Stuart, Hildegard Angel, foi às lágrimas durante o evento e agradeceu à iniciativa, lembrando que, mesmo que após tanto tempo, é sempre bom receber homenagens pela luta não só dele, como também de sua mãe, Zuzu Angel, e sua cunhada, Sônia. Ela, que recebeu uma placa das mãos de Mauro Ney Palmeira, da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro (FRERJ), ainda contou uma história curiosa envolvendo o irmão.

"É difícil falar em um momento de tanta emoção, mas quero agradecer a todos os presentes por esta homenagem. É ótimo receber este tipo de carinho e de lembrança de que não há país sem democracia e liberdade. Quero lembrar também de uma história interessante. Cheguei aqui há algum tempo com meu filho para que ele aprendesse remo com o Buck (treinador de Stuart no Flamengo) e ele virou para mim dizendo que sobrinho do Stuart não poderia pagar, porque ele era um líder, muito querido por tudos", ressaltou.

Legado para o futuro – O ministro Paulo Vannuchi, da SDH/PR, um dos responsáveis pela série de memoriais "Pessoas Imprescindíveis", ressaltou a importância de se valorizar os heróis brasileiros que lutaram contra a ditadura, como Stuart. Para ele, este tipo de memorial deve ser visto não só como um símbolo do passado como também para lembrar que o que aconteceu durante a ditadura não pode se repetir nunca mais.

"A partir de hoje, tenho um time no Rio: o Flamengo (risos). Acredito que este momento se fazia necessário há muito tempo. É um dia de alegria, com lágrimas inevitáveis, para fazermos uma homenagem ao herói que foi o Stuart. É importante lembrar tudo o que aconteceu à juventude de hoje, para que isso nunca possa se repetir", disse Vannuchi, que teve o discurso endossado pelo ministro da comunicação, Franklin Martins.

"Todas as famílias do Stuart estão aqui. A família de sangue, os amigos, a família de Flamengo... Fico muito emocionado por isso. Gostaria de lembrar também que a nossa juventude, da qual tive orgulho de participar, deve ser exaltada. Erramos, sim, como qualquer ser humano, mas não erramos em duas coisas: não apoiamos a ditadura e não esperamos ela passar. Hoje, depois de sofrermos com torturas e de ficarmos nos porões, estamos aqui, ao ar livre, celebrando uma vitória, mesmo três ou quatro décadas após a ditadura. Os torturadores estão escondidos. Eles é que vivem nos porões agora", completou.

Bicampeão carioca de remo ao lado de Stuart, em 1964 e 1965, Zezé Barros foi outro que não escondeu a emoção e lembrou com carinho dos momentos com o ex-companheiro na homenagem. Assim como o vice prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Muniz, e Gabriel Zelero, representante do Centro Acadêmico de Economia da UFRJ, que foi nomeado em homenagem a Stuart Angel.

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