Artigo publicado na página 7 do jornal O Globo em 1/jun/07
MÁRCIO BRAGA
O Clube de Regatas do Flamengo elaborou projeto de construção de um novo estádio de futebol em sua sede da Gávea. Trata-se de um sonho e de uma necessidade do clube. Estamos na Gávea desde 1932 e tivemos um estádio ativo até a década de 60, no mesmo local. Mas o clube cedeu uma parte da área para a abertura da Rua Mário Ribeiro, contribuindo para facilitar o tráfego de veículos entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. O Flamengo também abriu mão, na mesma ocasião, de outras instalações de sua sede para viabilizar o anel de tráfego da Lagoa Rodrigo de Freitas. Desde então, não temos um estádio. O que nos restou foi um pedaço de estádio. O objetivo do projeto é fazer um estádio inteiro, adequado ao mundo de hoje e do futuro, e, assim, resgatar o objetivo original do decreto que cedeu a área ao clube.
O sonho do novo estádio existe desde que sacrificamos o antigo. É acalentado, inclusive, por promessas nunca cumpridas de autoridades. O projeto atual quer devolver o estádio ao Flamengo e oferecer aos sócios do clube, aos torcedores, à Zona Sul do Rio e a toda a cidade um complexo esportivo moderno, com conforto e segurança, no padrão da Fifa. Integrado a este complexo - com a finalidade de viabilizá-lo economicamente - está previsto um centro de compras e lazer. Este modelo de praças esportivas integradas a operações de comércio e entretenimento vem sendo adotado para viabilizar nove em cada 10 novos estádios construídos ou em construção em todo o mundo. Esta lógica não vale apenas para estádios esportivos. Vale também para aeroportos, por exemplo. O nosso Santos Dumont não deixa de ser aeroporto por incorporar agora cerca de 150 lojas. Passa a ser um aeroporto mais confortável, com mais oferta de serviços e menos oneroso - ou mais rentável - para o seu dono, no caso, o poder público. É exatamente isso que buscamos no caso do nosso estádio. Teremos uma obra financiada por terceiros, teremos novas fontes de renda para o Flamengo e ofereceremos mais conforto e serviços aos nossos sócios e à população.
O projeto do estádio do Flamengo vem suscitando dúvidas e mesmo temores legítimos de sócios do clube, de moradores da Zona Sul, de lideranças comunitárias e de autoridades. Projetos como este - e o nosso não é exceção - também mobilizam interesses comerciais e políticos contrários, alguns legítimos, outros não. Mas a todas as dúvidas, temores e críticas o Conselho Diretor do Flamengo vem procurando responder e esclarecer, mesmo limitado pela circunstância de que, nestes últimos meses, o projeto teve de passar por um longo e difícil processo de obtenção de autorizações e licenças dos governos municipal, estadual e federal e, sobretudo, por ser uma matéria ainda em discussão no âmbito do clube. Está em fase final de análise por diversas comissões técnicas e será submetido ao Conselho Deliberativo.
Neste contexto, o artigo "A desordem por decreto", publicado no dia 25 de maio no GLOBO, de autoria da vereadora Andrea Gouvêa Vieira - que vem liderando em diferentes frentes uma cruzada sem trégua contra o novo Estádio do Flamengo -, revela uma lógica perversa ao procurar indispor a população da Zona Sul contra o projeto. Tão preocupada com o trânsito na área, a vereadora não aponta qualquer sugestão ou proposta para a questão. Mas quer impedir que o Flamengo exerça seu direito em nome de um problema que ela, como autoridade, sequer ajuda a resolver.
Ao contrário da vereadora, o Flamengo está preocupado de verdade com os efeitos do seu projeto no trânsito e está disposto a colaborar - como colaborou no passado - para a solução do problema. O novo estádio vai disponibilizar 1.836 vagas para carros. Esta oferta é 32% maior que o exigido pela legislação e contribuirá para ordenar o estacionamento de veículos na região. Além disso, o Flamengo está á disposição das autoridades para colaborar na busca de soluções para agilizar o fluxo de veículos por ocasião dos jogos. Vale lembrar que os horários das partidas não coincidem com o horário do rush.
A vereadora também decreta que o novo Estádio do Flamengo não cabe mais na Zona Sul e parece nos sugerir a ir para outras regiões da cidade. Sobre este ponto, prefiro falar como carioca, mais apaixonado pelo Rio a cada novo dia dos meus 70 anos de idade. Concordo com as autoridades que planejam crescer a cidade na direção das zonas Norte e Oeste. Mas isso não pode significar o abandono da Zona Sul e a condenação dos seus moradores a terem de conviver com áreas degradadas como é o caso do entorno da sede do Flamengo, na Gávea. Esta região é, há muito tempo, mais uma daquelas áreas interditadas aos cidadãos de bem e às suas famílias, por estar dominada por bandidos que cometem assaltos e nos aterrorizam a qualquer hora da noite ou do dia. Também a isso a vereadora não dá atenção.
O novo estádio do Flamengo vai devolver esta área à população. Vai abrigar atividades esportivas, sociais, culturais, além de comércio e entretenimento, todos os dias da semana, abrindo calçadas mais amplas e mais iluminação. Criando mais renda, mais emprego e oferecendo atividades sadias aos sócios do Flamengo e a todos os que vivem em nossa cidade.
MÁRCIO BRAGA é presidente do Flamengo.