Waldemar Niclevicz, que escala picos de 8 mil metros, acha injusto futebol nas alturas
Zé Gonzalez Do GLOBOESPORTE.COM, em São Paulo
Em 1995, Waldemar Niclevicz chegou ao topo do Everest, a 8.848 metros\ Até mesmo quem é acostumado a fazer atividade física nas alturas é contra a realização de jogos de futebol em cidades muito altas. O alpinista Waldemar Niclevicz, que por seis vezes já superou montanhas geladas a mais de 8 mil metros, acha injusto que partidas sejam marcadas para lugares com altitudes elevadas.\
Recentemente, a Fifa determinou que não estão autorizados jogos acima de 2.500 metros sem que exista um período de aclimatação prévia. Para jogar a 2.500, a Fifa quer três dias de ambientação; se o local tiver 2.750 metros, pelo menos uma semana; para mais de 3.000, a entidade diz que “pela regra geral não se disputam partidas nestes lugares, exceto se existir um período de 15 dias de adaptação”.
- A Fifa está mais que certa. É injusto para quem precisa subir tão alto para jogar sem fazer essa adaptação. Só que os clubes de futebol, com jogos de quarta-feira a domingo, não têm tempo para isso. Aí vira praticamente um doping natural para quem atua em casa lá no alto - afirma Niclevicz.
A Fifa está mais que certa! É injusto para quem precisa subir tão alto e jogar sem adaptação\ Waldemar Niclevicz, alpinista, sobre futebol na altitude\
Só que, por enquanto, as normas só servem para confrontos de seleções. Os clubes, ao contrário, continuam jogando em altitudes na Taça Libertadores da América. Neste ano, o Santos perdeu para o San José (BOL) na cidade de Oruro, 3.700 metros acima do nível do mar, e o Fluminense empatou com a LDU (EQU) em Quito, a 2.850 metros. Até o fim da fase de classificação, o Flamengo enfrentará o Cienciano (PER) nos 3.360 metros de Cuzco, e o Cruzeiro visitará o Real Potosí (BOL) a 4.090 metros em Potosí.
Waldemar na base do Makalu, no Nepal
Para a próxima missão, a escalada do Makalu – a quinta maior montanha do mundo, no Nepal, com 8.463 metros –, Waldemar Niclevicz escolheu justamente a cidade de Potosí, na Bolívia, como local para uma aclimatação de dez dias. Quem vive ao nível do mar tem menos glóbulos vermelhos no sangue. São eles os responsáveis pela fixação do oxigênio. Quem mora na altitude já tem mais glóbulos, porque o ar é mais rarefeito. Quando uma pessoa sobe a níveis muito altos, os poucos glóbulos têm dificuldade para absorver o oxigênio, que está em menor concentração.
- A adaptação é para aumentar o número desses glóbulos vermelhos. Independentemente do preparo físico, cada corpo tem uma porcentagem de absorção do oxigênio de acordo com o local em que vive - conta o alpinista.
Numa de suas aventuras – ele já escalou o Everest e o K2, dois dos picos mais perigosos mundo –, Niclevicz relata que viu moradores de locais muito altos – para cima dos 5 mil metros – jogando futebol.
- Só fiquei assistindo. Não fui louco de me arriscar... - brinca.
Dicas: complexo B, vitamina E e muita água\ Como os clubes não têm tempo para fazer aclimatação à altitude, ele dá algumas dicas para tentar evitar os problemas.\
- É aconselhável tomar complexo B para aumentar o número de glóbulos vermelhos, se hidratar muito, já que o sangue fica mais grosso, e também ingerir vitamina E para afinar o sangue e não comprometer a circulação nas extremidades do corpo – completa.