No dia 11 de junho de 2016, o Flamengo conquistava pela quarta vez consecutiva o título nacional de basquete (quinta vez na história), vencendo o NBB 8 em uma emocionante final melhor-de-cinco contra Bauru. A simples presença naquela final nos qualificava para mais uma participação na Liga das Américas 2017 (também pela quarta vez consecutiva), cuja disputa começa hoje, dia 20 de janeiro.
No dia 14 de novembro de 2016, recebemos pela imprensa a notícia da intervenção na Confederação Brasileira de Basquete (CBB) pela Federação Internacional (FIBA), justificada pelas seguintes razões, em nota oficial: "a não participação em competições internacionais; o fracasso na organização de um evento do 3x3 World Tour, que seria no Rio; a falta de controle completo do basquete no país; atrasos de pagamentos à FIBA; e falta de um plano de reestruturação ou reforma na entidade antes das eleições".
O efeito imediato foi a suspensão da participação das seleções e clubes brasileiros em qualquer competição internacional patrocinada pela FIBA. Desde então, a Liga Nacional de Basquete (LNB), como representante dos interesses das equipes do Flamengo, Bauru e Mogi das Cruzes, legitimamente classificadas dentro da quadra para a Liga das Américas, tem liderado as tratativas junto a FIBA para buscar reverter essa irracional punição aos clubes brasileiros.
A LNB hoje é, de fato, completamente independente da CBB, constituindo-se na entidade que está fazendo o esporte voltar a crescer no país. A credibilidade da instituição formada pelos clubes, com uma estrutura profissional, vem conquistando a confiança de vários patrocinadores importantes, além da parceria inédita com a NBA, que nunca havia feito esse tipo de associação com nenhuma outra liga do mundo. Estamos na nona edição do NBB e o sucesso do campeonato cresce a cada ano, tal como a massificação do esporte no país, dados comprovados em recentes estatísticas.
Portanto, se a FIBA almeja alcançar a nobre missão de ajudar o basquete brasileiro, minar os clubes da Liga Nacional significa um verdadeiro "tiro no pé", um erro monumental. Se um corpo está doente, sendo que metade está saudável e a outra apresenta gravíssimos problemas, extirpar também a "parte boa" é equivalente a assinar o atestado de óbito do basquete brasileiro, pelo menos no curto prazo. Que a FIBA foque, com todos os argumentos apresentados, no segmento que não está funcionando, caso contrário apenas piorará a situação que está querendo enfrentar.
O C.R. do Flamengo, nas últimas três edições da Liga das Américas, venceu uma e alcançou o terceiro e quarto lugares em duas outras ocasiões. Mais importante, o Flamengo contribuiu de forma importante com a FIBA Américas ao assumir pesados riscos de investimento ao sediar dois eventos de Final Four da Liga das Américas (2014 e 2015), com o Maracanãzinho sempre lotado. Enfim, mesmo que a FIBA também desconsidere o tetracampeonato seguido do NBB, o C.R. do Flamengo acredita possuir total legitimidade para questionar a decisão de nos retirar, em uma "canetada", a vaga conquistada dentro da quadra, feito também alcançado por Bauru e Mogi.
Não houve clube na América Latina que mais projetou a FIBA Américas nos últimos anos. Relembremos que o C.R. do Flamengo recebeu o campeão europeu e, em mais duas lindas festas com a Arena da Barra lotada, sagrou-se também campeão da Copa Intercontinental de Clubes da FIBA. Adicionalmente, fomos o primeiro clube da América Latina a ser convidado para uma pré-temporada da NBA em território norte-americano. Sempre pioneiro, o C.R. do Flamengo foi também o primeiro clube latino-americano a receber uma equipe da NBA para uma partida em sua cidade.
Qual foi, então, o suporte dado pela FIBA Américas ao Flamengo e ao basquete brasileiro? Quinze dias depois da punição anunciada pela FIBA, em uma "agilidade inédita", a entidade divulgou a tabela do torneio, já sem os brasileiros. Profundamente estranha e ingrata a posição da FIBA Américas nesse episódio.
Além disso, o C.R. do Flamengo vem passando por um duro processo de ajuste desde 2013, tendo pago mais de R$ 350 milhões em dívidas e regularizado sua questão fiscal. Voltamos a ser um clube-cidadão e os resultados no basquete revelam também um grande sucesso esportivo. Somos também totalmente a favor de uma total reestruturação do atrasado sistema de federações e confederações no Brasil, que tanto prejudicam o desenvolvimento do esporte brasileiro. Basta relembrar o nosso enfrentamento à Federação de Basquete do Rio de Janeiro, em diversos episódios durante a conquista do nosso título de duodecampeão carioca vencido em 2016 sobre o Vasco da Gama. Adicionalmente, o C.R. do Flamengo tem liderado projetos semelhantes ao da Liga Nacional de Basquete em outras modalidades, sempre lutando pela decência e desenvolvimento do esporte brasileiro.
É completamente paradoxal e até cruel, depois de termos trilhado o duro caminho do saneamento financeiro, com profundos sacrifícios, que os direitos do C.R. do Flamengo sejam atingidos pela irresponsabilidade e má gestão alheia.
O C.R. do Flamengo está totalmente aberto ao diálogo e espera que a FIBA recupere o bom senso, escutando os nossos argumentos e permitindo que os clubes brasileiros possam disputar a Liga das Américas 2017. Lembrando que as seleções do Brasil não têm torneios em datas próximas, ficando todo o peso da punição ao basquete do Brasil nas costas de três clubes que investem e tratam basquete da forma mais séria e profissional possível, sem possuir nenhuma relação com a administração da CBB, que parece ser o alvo da FIBA.
Cabe ressaltar, no entanto, caso a punição aos clubes brasileiros seja confirmada, que o C.R. do Flamengo não poupará esforços, através de nossa área jurídica, para buscar caminhos para processar e buscar o ressarcimento devido de todos que participariam desse enorme prejuízo potencial – tangível e intangível - ao nosso clube.
Conselho Diretor do C.R. do Flamengo