Especial LDB – Entrevista com o técnico Rodrigo Galego
Há dias da estreia da maior competição de base do basquetebol nacional, o treinador da equipe Sub20 do Flamengo fala com exclusividade ao site oficial
Por Raiana Monteiro - emEntre os dias 24 e 30 de julho, o Clube de Regatas do Flamengo será o anfitrião do Grupo B da primeira fase do Campeonato Brasileiro Interclubes - Liga de Desenvolvimento de Basquete, a LDB. Ao todo, a competição reúne 13 equipes que lutarão por oito vagas na final após duas etapas de grupos.
O Flamengo comanda os confrontos a serem realizados no ginásio do Tijuca Tênis Clube. Na sede Rio estarão Flamengo, Maringá, Basquete Cearense, União Corinthians, Pinheiros e São José. Completam ainda a competição, jogando simultaneamente à etapa Rio, os clubes Curitiba Basquetebol, Coritiba Monster, Minas Tênis Clube, Paulistano, Sesi Franca, Corinthians e Praia Clube, em disputas a serem realizadas no Paraná.
Contratado há quatro meses pelo Mais Querido, o técnico da equipe Sub-20 rubro-negra, Rodrigo Galego, falou com exclusividade ao site oficial do CRF. Confira abaixo.
Você está há pouco mais de quatro meses no Flamengo. Como foi o início do trabalho com o elenco do Sub-20 e os demais profissionais da equipe multidisciplinar do Mais Querido?
“Foi uma primeira impressão bem interessante. Eu cheguei depois do carnaval, em março, então em fevereiro o Igor (Meletti), técnico do Sub17, e o Rafael (Bernardelli), preparador físico da base, já haviam começado os trabalhos técnicos e físicos dos garotos. Então eu já pude dar o passo seguinte, de implementar as informações que eu acredito. O Gustavo (De Conti) me trouxe algumas ideias que ele quer que sejam aproveitadas do adulto, mas ao mesmo tempo que ele me trouxe a informação ele me deu muita liberdade de escolha nas minhas aplicações. Eu sempre dividi com ele o que eu queria fazer e ele sempre me garantiu que eu tocasse a equipe da maneira que eu acreditava ser o certo. Isso foi muito importante para mim na minha chegada. Isso me deu muita confiança de pensar que as pessoas me trouxeram para o Flamengo porque confiam no meu trabalho.
Por ser a última categoria da base, o quão parecida é a metodologia dos treinos do Sub20 com a do time principal do clube? Como tem sido a preparação para a LDB?
“Então... a gente aproveita alguns conceitos do adulto, pois é a última categoria e já tem que ser realmente aproximado o conceito, mas não tem que ser idêntico. O trabalho tem que ser adaptado às peças que você tem. A gente fez uma preparação interessante nesse ano aqui que foi de disputar competições adultas. Disputamos a LSB (Liga Super Basketball), que é um campeonato amador de basquete do Rio de Janeiro com muitas equipes. Muitas vezes enfrentamos jogadores amadores ou jogadores que se aposentaram, mas com experiência de adulto. Não tem essa ansiedade do garoto de acertar, essa cobrança, então você está enfrentando ali pessoas bem experimentadas, que jogam um pouco mais duro. Isso dá uma cancha, uma experiência para os atletas bem legal.”
“Estamos jogando a LSB, estamos também jogando o torneio adulto do Rio de Janeiro – o Cariocão – e estamos participando do campeonato carioca Sub19. Essas competições serviram para eu conhecer os atletas, entendê-los em situações desfavoráveis, às vezes em jogos difíceis, mas também em situações fáceis. Quando a gente está ganhando fácil, como cada jogador se comporta, se continuam se cobrando a fazer o melhor...”
Então você considera essa estratégia de participar desses torneios adultos do Rio de Janeiro na pré-temporada bem-sucedida?
“É impressionante perceber como as pessoas estão envolvidas com o projeto de basquete do Flamengo. Às vezes um atleta adulto mais pesado tromba num jovem e ele cai, então o jogador já vem pedindo desculpas, falando que sabe que a gente vai jogar a LDB, que estamos nos preparando para a competição... É muito legal a gente representar o Rio de Janeiro nesse trabalho. Se a gente tiver um sucesso na LDB e no trabalho como um todo, se a gente se destacar nacionalmente, é o basquete do Rio de Janeiro, sabe? São os árbitros que cuidaram dos jogos e orientaram os atletas de maneira precisa, de maneira formativa, são os adversários que jogaram duro, são os rivais dos outros clubes que jogaram duro contra a gente, mas que esperam também da gente o melhor. É muito positivo poder representar o estado do Rio de Janeiro, o lugar que eu nasci, por uma modalidade, é algo que me motiva também todos os dias a fazer esse trabalho no Flamengo.”
Como funcionou a montagem do time para a competição? Tivemos até a última semana ainda a chegada dos atletas Pedro Nunes e Matheus Maciel... Como encaixar todas as peças, tendo no início cedido atletas para o adulto no NBB 11 e agora com novos jovens no elenco?
“No meio desse caminho todo, nesses quatro meses, algumas peças foram chegando por conta de algumas coisas que eu já havia conversado com o Diego (Jeleilate), de necessidade do time. A gente treinou só um período, eu tinha uma ideia de trabalhar dois períodos, mas tinha uma reta final do adulto, que também consumiu uma parte do meu horário, já que estava como segundo assistente, mas também de alguns atletas que estavam acompanhando a equipe adulta. Apesar disso eu acredito que tenhamos feito uma preparação muito bem feita, estamos nos ajustes finais com os garotos que chegaram, fazendo uma sintonia fina de pequenos detalhes. A gente acredita que começaremos bem, lógico que a gente nunca chega 100% na competição, mas a gente tenta chegar ali nos 70% para ter esse lastro de crescimento na competição. Enfim, foi uma preparação boa, bem feita, bem organizada, arquitetada pela parte física, parte médica do clube e a nossa parte técnica/tática que o Igor e eu montamos.”
A filosofia de trabalho do Gustavo De Conti e do Diego Jeleilate é de integração total entre o adulto e a base. Como será seu trabalho com o Sub20 e a participação nesse processo de transição?
“Quem conhece o Diego e Gustavo trabalhando sabe que são profissionais que valorizam muito a base e gostam de desenvolver e lançar jovens atletas. Isso é algo que eu também me identifico muito, porque apesar dos últimos cinco a seis anos eu ter largado um pouco a base e ter trabalhado com equipes adultas, que é meu projeto de vida, ser técnico profissional de basquete, viver disso, as equipes que eu trabalhava eram equipes de jovens. Eles subiram das categorias de base comigo. Essa transição das últimas categorias para o início da vida numa carreira adulta é algo que estou muito acostumado a fazer, então é por isso que eu acho que me encaixo tão bem nessa engrenagem que o Flamengo está tentando montar. Sabemos que as vezes pode ser desgastante para os atletas, mas eles também estão muito conscientes de que é uma fase, que estão cheios de energia. Se for perguntar para eles, dirão que não trocam por nada essa chance de fazer parte do adulto, acompanhar um time campeão, como foi agora novamente no NBB, e ser um jogador tentando protagonizar nas categorias de base, no meu caso os do Sub-19 e Sub-20.”
“Nessa próxima temporada a gente está trazendo alguns reforços que vêm num outro viés. Eles não vêm para jogar para a base e talvez ver se possam ajudar no adulto. Eles vêm para o adulto. Vêm fazer parte do elenco do adulto, mas como atletas que podem também agregar para a nossa base.”
Você se mostrou uma pessoa muito interessada no trabalho realizado pelo Gustavo e pelo Fernando Pereira (auxiliar técnico) desde sua chegada, inclusive observando bem de perto os pedidos de tempo do último NBB. O que você tira dessa experiência, dessa troca de conhecimento?
“Eu nunca trabalhei numa equipe profissional. Minhas equipes eram amadoras tentando virar profissionais. Porém, eu rodei bons clubes no Brasil assistindo treinos. Conheço grandes técnicos no Brasil porque eu ia lá e assistia seus treinos... mas poder estar no banco durante o pedido de tempo e ver o que o técnico resolve naquela hora ali é uma experiência que eu nunca tinha tido na vida nesse nível, no alto da pirâmide.”
“Eu gosto muito dessa ideia da linguagem, da comunicação efetiva mesmo. O que em um minuto você consegue passar, quais são as palavras-chave, e poder observar isso foi uma forma de conseguir entender todo o trabalho do Gustavo. Entender como ele puxa a equipe, como ele enxerga o jogo, então, foi riquíssimo para mim. A ideia é eu me aproximar, me inteirar, entender o que estavam trabalhando, o que estavam tentando exigir dos jogadores a cada momento e, principalmente, como mudavam o ritmo do jogo, a tática. Isso me acrescentou muito.”
“Sou muito fã do trabalho do Gustavo, ele sabe disso. Já tive o prazer de enfrentá-lo em competições amadoras em anos anteriores e estar agora trabalhando com ele, participando de treinos, tirando dúvidas, e tendo a opção de colocar minha posição, foi de muito aprendizado. Muitas das coisas que eu já pesquei ali dele falando são coisas que eu já percebo que estão incorporadas no meu trabalho. Então a ideia é mais ou menos essa.”
E quais são os próximos passos da Categoria Sub-20 do Flamengo?
“São só quatro meses. A gente ainda tem uma série de processos para evoluir, mas eu fico bem contente em ver os pequenos avanços que a gente já percebe, comportamentais individuais, mas que a gente vai acabar colhendo na parte coletiva. Além disso, novamente, ser bem recebido com a confiança que eu tive do Diego, do Gustavo, do Fernando, a equipe que está chefiando o adulto... Me jogar na mão um plantel com tanta qualidade assim e dividir comigo o que eles querem, me trazendo os objetivos deles, mas ao mesmo tempo me dando a liberdade de falar ‘cara, a gente sabe que você dá conta e faz bem isso aí. Eu quero que você me traga informações do que está faltando, do que a gente pode fazer mais’. Normalmente tudo o que eu tenho levado de informação para o Flamengo internamente a resposta é: ‘Vamos fazer’. Então é um momento muito rico, muito importante que eu acho que a gente pode virar uma chave, construir uma história no Flamengo, não só no adulto, que é uma história já consolidada, mas construir na base como formadores de atletas, que eu acho que pode virar referência nacional e talvez até na América.”