Cavaquinho, amigo, homem de família e fé: as origens de José Neto
Histórias de infância e da carreira do técnico do Orgulho da Nação
Por Ricardo Taves, em Itapetininga, SP - emBasta caminhar poucos metros na tradicional feira de domingo, na pacata Itapetininga-SP, vestindo o uniforme do Flamengo, para alguém se aproximar e perguntar: "conhece o Neto?". Cidadão ilustre, o treinador da equipe de basquete do Mais Querido construiu um legado de dedicação, fé e raça que inspira os pouco mais de 180 mil habitantes da cidade que nasceu, 177km distante da capital, São Paulo.
Uma pequena roda se forma. No interior, todos se conhecem e dividem causos. Marcelo, um rapaz de 34 anos que acompanha a esposa grávida, revela um arrependimento.
"Estávamos jogando futebol e o Neto passou de bicicleta. Um amigo chutou a bola e acertou a roda, ele caiu e abriu o queixo. A cicatriz dele é por conta disso", conta.
Explorando a cidade chegamos à casa da sogra de José Neto. Dona Tereza está acompanhada de Thais, cunhada do treinador. Visivelmente emocionada, a "filha de criação" demonstra em poucas palavras o amor e gratidão.
"Perdi meu pai com 1 ano e 8 meses. O Neto já namorava minha irmã e foi um pai para mim. Em todos os eventos, reuniões da escola, ele me acompanhava, sempre me senti amparada", conta.
A sogra também não mede elogios ao falar do genro ilustre.
"Ele é um filho para mim. Um orgulho. A gente sofre junto nos jogos, torce, mas conhecemos a força dele e a dedicação. Merece todo o sucesso."
Vídeo: Neto, orgulho da Nação, da família e dos amigos.
Neto começou no basquete em Itapetininga. Foi jogador, treinou equipes da universidade local, mas a principal influência veio do Professor Coca, treinador e mentor do técnico. Já falecido, a personalidade de Coca foi esmiuçada através de outros amigos. Caso do Professor Nereu, que treinava a equipe feminina da cidade.
"O Coca trabalhava muito a parte defensiva e é possível notar a influência nas equipes do Neto, sempre muito bem armadas na marcação", analisa.
Já Rodrigo Moraes, supervisor da secretaria de esportes da cidade, revela o lado humano do mentor de José Neto.
"O Coca nos educou através do esporte. Ele fazia questão que não faltássemos, quando era preciso ele nos dava carona, tratava o pessoal como filho mesmo. Nos passou valores importantíssimos como respeito, garra e dedicação. Ele faz muita falta para todos nós", sentencia.
Por último, o lado irmão e compadre de José Neto. Alzimara, a irmã, acompanhada dos filhos, ressalta o foco dele na luta pelo futuro vencedor e uma curiosidade que poucos imaginariam.
"O primeiro contato do Neto com o basquete foi aos 4 anos, quando ele pediu uma bola e um cavaquinho de presente. Aliás, ele toca de tudo (samba, músicas da igreja etc). Cresceu assim, focado. Ele sempre quis entrar na USP (Universidade de São Paulo) e fazer Educação Física. Nosso pai sempre nos ensinou a buscar o melhor, fazer sempre bem feito. O Neto conseguiu, trabalhou em academia, até que conseguiu chegar ao basquete. Ele é muito focado, merece tudo que conquistou", reflete, orgulhosa.
Já Ailton Junior, amigo e compadre do treinador, faz questão de enaltecer a ligação com Deus. Coroinha na adolescência, o técnico do Flamengo sempre respeitou os valores aprendidos na infância. Junior economiza palavras, mas define com precisão.
"Um homem de fé!"
O treinador do Orgulho da Nação recebeu as mensagens e assistiu emocionado. Ao final da "viagem nostálgica" mostrou que tudo que se fala sobre ele não é por acaso.
"Olha, estou preparado para vencer 50 finais por um ponto, mas não para isso (risos). São pessoas e histórias marcantes e que me orgulham demais", finaliza.
José Neto e seus comandados voltam a quadra nesta quinta-feira (26), 17h, para enfrentar o Bauru pelo jogo 2 das finais do NBB CAIXA. O Flamengo venceu a equipe paulista na primeira partida e leva vantagem na série. A RedeTV e o Sportv transmitem o confronto.