Refugiados encontram no Flamengo um grande amor e uma nova chance de viver
Vendedores das lojas oficiais Prince, Agostinio e Cedrick fugiram do Congo e sonham ajudar suas famílias que ainda sofrem com a guerra
Por Isabela Abirached - emO tamanho da Maior Torcida do Mundo é impressionante, não é? Mais de 40 milhões de rubro-negros espalhados pelo país, e até fora do Brasil. Agora, imagine 68,5 milhões de pessoas afastadas de suas casas e suas famílias, vítimas de perseguição, conflitos, violência e desastres naturais. Este é o número de refugiados ao redor do planeta segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A grande luta da organização é para que a solidariedade e a disposição em ajudar essas pessoas sejam uma responsabilidade compartilhada por todos os seres humanos. E o Flamengo tem orgulho de fazer parte dessa luta.
Na rede de Lojas Oficiais do clube, o torcedor rubro-negro pode ser atendido por três vendedores refugiados do Congo, que encontraram no Mengão uma nova chance - e uma nova razão - para viver. Prince Lufungula Mabuza, de 32 anos, da unidade da Rua da Quitanda, chegou ao Brasil em agosto de 2015 e, segundo ele, já conhecia o Flamengo em seu país. Aqui, o que era apenas conhecido passou a ser tudo.
“Saí do Congo porque no meu país estava acontecendo uma guerra civil e não dava para ficar… Tive que sair. Vim de barco e graças a Deus cheguei ao Brasil. Vivi momentos difíceis e o Flamengo me ajudou, mudou a minha vida. O Flamengo me deu família, me deu trabalho, me deu amor e alegria. O Flamengo para mim é tudo, é amor. Até porque o Flamengo me ajudou a resgatar alguns valores da vida. Sou Flamengo para sempre”, diz Prince, que sofre com a saudade e o idioma, mas ajuda seus parentes que ficaram no Congo. Um sonho? “Ter uma vida segura sem violência e perto da minha família”.
Compatriota de Prince, Agostinio Nzinga Mangitukulu, de 38 anos, também chegou ao Brasil em 2015 e trabalha na Loja Oficial de Madureira - começou personalizando camisas e hoje é um dos melhores vendedores da unidade. As dificuldades de um país sem democracia fizeram com que Agostinio buscasse melhores condições.
“Eu saí do meu país porque não havia eleições para escolher outro presidente. Não estava conseguindo emprego no Brasil até o dia em que entrei para a loja. Hoje estou muito feliz, graças ao Flamengo. Estou bem, alugando minha casa, consigo ajudar minha família lá no Congo e me manter aqui também. Fui muito bem acolhido por todos”, conta o congolês, que conhecia o Mais Querido por causa de um tal de Arthur Antunes Coimbra… “Sabia do Flamengo por causa do Zico nos comentários esportivos”. Hoje, mais do que “o clube do Zico”, o Rubro-Negro é seu grande amor.
“O Flamengo significa a melhor parte da minha vida. É meu time de coração, o clube que me conquistou desde que cheguei ao Brasil. A melhor parte disso tudo é saber que eu vivo de Flamengo e para o Flamengo. Fiz desse clube a minha vida e a minha maior paixão. Torço para o maior time do Brasil e sou da Maior Torcida do Mundo”, se declara Agostinio, que sonha em trazer sua família para o Brasil e tirá-los de um país em guerra: “Nunca vivi em paz no meu país, a maior dificuldade era ver meu povo morrer”.
Mais tímido que seus conterrâneos e colegas de trabalho, Cedrick Lona Butsana, 37 anos, vendedor da loja da sede social da Gávea, divide com eles o mesmo carinho pelo Mais Querido e as mesmas lutas e sonhos. “O Flamengo para mim é uma vida. Tenho dificuldade com o idioma, mas meu sonho é ser alguém aqui no Brasil”.
Quem são os refugiados
Diferentemente dos migrantes, que se mudam dentro do próprio país ou para fora, normalmente por iniciativa própria, em busca de melhores condições de vida, os refugiados são pessoas que deixam seus países por temores de perseguição, conflito, violência ou outras circunstâncias que perturbem seriamente a ordem pública.
Como ajudar a causa
Duas das maiores organizações humanitárias em prol de refugiados e populações em situações de emergência são Médicos Sem Fronteiras (clique aqui para doar) e Cruz Vermelha (clique aqui para doar).
Eventos no Dia Mundial do Refugiado
Para marcar este 20 de junho, o Acnur e entidades parceiras organizaram uma agenda de eventos culturais e gastronômicos, mostras de cinema, debates e exposições fotográficas no Brasil. A ideia é promover a integração entre brasileiros e refugiados em diversas cidades. As atividades serão realizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Boa Vista e Manaus. A agenda completa das atividades está disponível no site do órgão da ONU.