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Treinador de Michel Gomes fala de para-remador

Franquilin Oliveira vê atleta como exemplo de superação e vontade

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O atleta paralímpico do Flamengo Michel Gomes se sagrou vice-campeão do Crash-B, em Boston, na categoria Troncos e Braços (TA), no último domingo (01.03). A colocação é consequência da determinação do atleta e da parceria com o técnico Franquilin Oliveira. Em entrevista para o Site Oficial do Clube, o treinador falou do talento e da força de vontade de Gomes.

Qual o sentimento de ver o Michel numa excelente colocação no Mundial indoor, sabendo que muito disso se deve ao seu trabalho?
Franquilin Oliveira:  Tenho a minha parte nisso, mas eu acho que se deve mais a ele, porque fazer o que ele faz todo dia é muita força de vontade mesmo. Tenho a minha parcelinha de contribuição e fico muito feliz por isso, mas só dou o caminho pra ele. Quem faz é ele, pelo dia-a-dia sofrido que ele tem, por morar numa comunidade humilde, por ser uma pessoa muito humilde. Ele só tem a ir mais longe, nesse caminho que está trilhando, que é chegar à olimpíada.

Ele rema desde outubro de 2013, certo? Qual a sua visão da evolução dele até aqui?
F.O: Minha visão é muito boa em relação à ele, porque em tão pouco tempo ele conseguiu conquistar marcas de grande peso. Ele teve, início de 2014, ficou em 7 na Itália. Poderia ter ficado em uma posição melhor, mas pela falta de experiência terminou num excelente sétimo lugar. Depois foi pra França e ficou em sexto. Estava liderando a prova e no finalzinho passaram ele. Depois teve o Mundial, na Holanda. Dava pra ele ter ficado em segundo, mas ele terminou em terceiro, o que é excelente, porque tinham todos os grandes atletas da modalidade lá. Então a minha visão é que eu tenho certeza de que, se ele continuar nessa pegada, nós chegaremos no alto do pódio em 2016. Faço muita fé nisso.

Como você enxerga o Michel em 2015?
F.O: Em 2015 vejo o Michel numa ascensão em regatas que servirão para ele conhecer seus rivais, nacionais e internacionais. No Mundial, ele tem que estar entre os 8 para fazer parte das olimpíadas. Ele tem tudo para estar representando muito bem o Brasil,competindo dentro de casa. O retorno pra ele é muito bom. Ele vai estar em casa, treinando mais tranquilo, competindo mais tranquilo. Não vai ter problema de temperatura, já vai estar aclimatado, já conhece muito bem a raia da Lagoa. É a casa dele. Competir em casa são outros 500. Cada vez vejo ele mais longe, à cada competição. Pra 2016 eu vejo ele na parte mais alta do pódio, sendo medalhista paralímpico. Posso estar puxando muito dele, mas pelo que vem aplicando, a tendência é essa mesmo. Os próprios competidores dos outros barcos, dos outros países, falam isso. O Michel apareceu do nada e, por ser um barco novo, a tendência é só crescer. Os outros barcos já estão há algum tempo no cenário mundial. O Michel é o novato da galera. Vê o barco como forte candidato à medalha de ouro.

O que ainda falta o Michel atingir tecnicamente no remo?
F.O: Acho que já melhorou bastante, mas sempre tem uns detalhes que trabalhamos. Postura no barco, conhecer as táticas de prova, estudar os adversários, são alguns exemplos. Tecnicamente acho que tem pouca coisa pra mudar,porque o barco tem uma série de adaptações, então tentamos colocar a melhor adaptação para que reme o melhor possível para aplicar a maior força no barco. Trabalhamos para que reme tranquilo, aplicando o seu 100%, puxando o melhor de você. Essas adaptações são pra isso. E ele está praticamente no 100%. Bem evoluído. Eu trabalho bastante com ele a parte técnica, a postura, os educativos, justamente pra ele ficar com essa parte técnica afinada.

O Michel já declarou algumas vezes que te considera um pai, apesar da  pouca diferença de idade entre vocês. Como você recebe essa declaração?
F.O: Ele é a maior figura. Garoto de ouro. Pelo cuidado que tenho com ele, parece que é um filho. Não só com ele, mas com todo mundo, tento dar o meu máximo. No caso do Michel, por ele ser um garoto que já é casado, tem um filho, mas apenas disso, converso com ele sobre tudo. Ele tem aquela risada no rosto, mas tem os problemas de família dele, fica doente. Eu falo pra ele que o descanso faz parte do treino também. Ele quer a todo mundo estar presente, mostrar o melhor dele, mas sempre procuro cuidar desse lado dele pessoal. Acho que por isso a nossa relação é muito forte. Quando ele chega no treino com uma cara diferente, já sei que aconteceu alguma coisa. Acho que conheço ele do cabelo ao dedão do pé. Cavo os problemas dele e conversamos sobre isso, Tudo o que puder fazer para ajudá-lo, eu vou fazer. Agora nós temos um aparelho pro barco para ajudá-lo nos treinamentos. Ele não tem condições de comprar essas pequenas coisas, então faço questão de comprar. Seja um suplemento, seja um aparelhinho pra colocar no barco. Vou sempre ajudar. Tenho alguns amigos que se pré-disponibilizaram a ajudá-lo também. Ele já está com uma ajuda de custo da Confederação Brasileira de Remo e a própria Confederação está correndo atrás do Plano Brasil Medalhas (que ajuda os atletas que tem chances de medalha olímpica) pra ele também para que consiga ficar integral no remo, para que não precise mais trabalhar na oficina e continue passando por todo esse desgaste. Nossa relação é muito boa, muito amigável. É bem transparente. E pode anotar aí, em 2016 estaremos nas cabeças.